A queda nas cotações do petróleo pode adiar projetos da indústria petrolífera em todo o mundo, incluindo os investimentos no pré-sal brasileiro. A opinião é de especialistas do setor, que vêm uma desaceleração dos investimentos à luz dos novos preços. Nesta quinta-feira, o petróleo Brent fechou o pregão na Bolsa de Londres a US$ 66,32 por barril. Já o WTI, negociado em Nova York, terminou o dia cotado em US$ 69,85, menor cotação desde agosto de 2007.
A queda, que já supera os 50% desde o recorde de US$ 150 por barril atingido em julho, reflete em grande parte o temor de desaceleração da economia mundial e, em conseqüência, do consumo de combustíveis. Movimento que já vem sendo verificado nos Estados Unidos: segundo o Departamento de Estado, a demanda americana por petróleo nas quatro semanas encerradas em 10 de outubro foi de 18,614 milhões de barris por dia, queda de 8,9% ante o mesmo período de 2007.
É consenso entre especialistas que esse cenário vai provocar adiamento de projetos, principalmente aqueles de produção não-convencional, como as areias betuminosas canadenses ou em águas muito profundas. Isso porque essas fontes só se sustentam com petróleo em alta. "Os projetos de elevado custo terão que ser adiados (mas não cancelados) enquanto os operadores não conseguirem encontrar engenharia para reduzir os custos", aponta, em relatório, o analista Emerson Leite, do Credit Suisse, que exclui o pré-sal dos projetos em risco.
No que diz respeito ao Brasil, os especialistas ouvidos pelo Grupo Estado concordam que os grandes projetos de refino anunciados recentemente pela Petrobrás, como as refinarias do Maranhão e do Ceará, estão mais sujeitos a modificações. E não descartam efeitos sobre os investimentos previstos para desenvolver as reservas gigantes do pré-sal. Principalmente se as cotações se mantiverem nos níveis atuais por muito tempo, como acredita a analista da Itaú Corretora, Paula Kovarsky.
"Se estivermos certos a respeito de uma correção para baixo dos preços, a atratividade do pré-sal pode ser questionada ou as companhias podem perder o interesse em assumir altos riscos de produzir em condições tão extremas", alerta Paula, também em relatório distribuído ontem. Ela prevê uma cotação em torno dos US$ 80 no curto prazo, caindo para US$ 75 no médio e longo prazos.
O professor Edmar Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ destaca que, além de reduzir a geração de caixa das companhias, o petróleo em baixa tem efeito sobre seu valor de mercado, o que reduz a capacidade de endividamento. De fato, as ações da Petrobrás vêm se movendo a reboque das cotações e, só ontem, caíram 7,50% (PN) na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), enquanto o principal índice da bolsa, o Ibovespa, fechou em baixa de apenas 1,06%.
"As empresas terão que rever seus planos, ser mais seletivas na escolha de projetos", diz Almeida, para quem, mesmo com uma melhora sensível nos mercados financeiros, o crédito permanecerá mais escasso. Nas contas de Leite, do Credit Suisse, com petróleo a US$ 80, a Petrobras teria que buscar no mercado US$ 43 bilhões para financiar os projetos já anunciados para o período entre 2009 e 2013. Com petróleo a US$ 65, a necessidade de captação sobe para US$ 68 bilhões.
A Petrobras avalia neste momento seu planejamento estratégico para o período, cuja divulgação já foi adiado por conta das incertezas geradas pela crise econômica. Embora reconheça que a escassez de crédito e a queda do petróleo mereçam atenção, a direção da empresa ainda insiste que não haverá adiamento de projetos. Leite calcula que o novo plano vai demandar US$ 163 bilhões em investimentos, contra US$ 112 bilhões do plano atual.