O mercado de trabalho deve ter uma recuperação bem mais lenta do que o esperado em 2017. As estimativas mais recentes projetam a taxa de desemprego chegando a 13% no ano que vem, principalmente porque o mercado tende a responder com uma defasagem à melhora na atividade. Além disso, a capacidade de absorção do trabalho por conta própria (bicos e serviços autônomos) chegou ao limite e a tendência de crescimento desse tipo de atividade começou a mudar. Em resumo, o cenário do emprego no país deve ficar ainda pior no ano que está por vir, antes de começar a se recuperar.
Os economistas do Santander acreditam que o mercado de trabalho continuará se deteriorando ao longo do primeiro semestre de 2017, ainda que de forma menos intensa do que neste ano. O banco projeta que o desemprego atingirá o pico de 13% ao final do segundo trimestre de 2017. “Considerando a média anual, projetamos que a taxa de desemprego subirá de 11,3% em 2016 para 12,7% em 2017”, afirma a equipe econômica.
O Bradesco também aumentou sua previsão da taxa de desemprego para 12,9% em 2017. A instituição financeira espera que a diferença entre as vagas criadas e as fechadas de 150 mil postos formais no próximo ano não será suficiente para compensar o aumento do número de pessoas procurando emprego.
O cenário mais nebuloso para os trabalhadores se dá principalmente pelo limite alcançado pelo mercado de trabalho informal. A atividade por conta própria, antes responsável por absorver boa parte dos brasileiros que tinham perdido o emprego, começou a dar sinais de enfraquecimento no terceiro trimestre deste ano.
No período, houve uma queda de 1,7% no número de trabalhadores por conta própria, em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. Em números absolutos, significa que 378 mil profissionais autônomos desistiram da empreitada de trabalhar sozinhos. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), isto não acontecia desde o primeiro trimestre de 2013. “Esse movimento indica que o trabalho por conta própria está perdendo capacidade de funcionar como alternativa de complemento de renda, elevando o desalento no mercado de trabalho. O que pode explicar a queda na taxa de participação”, afirma o instituto.
Desalento
O desalento mascara artificialmente o índice do desemprego. A certa estabilidade nos números de fechamento de postos de trabalho de outubro (11,8%) não é reflexo de uma melhora no fechamento de vagas formais, mas sim porque menos pessoas estão procurando emprego. O desalento significa que as perspectivas são tão ruins que o trabalhador desiste de buscar um novo trabalho.
De acordo com análise da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a taxa de desemprego de outubro foi atenuada pela redução do ingresso de pessoas no grupo da população economicamente ativa (PEA), passando de 0,78% em setembro para 0,56%, em outubro. Caso a PEA de outubro tivesse crescido no mesmo ritmo do mês anterior (0,78%), o desemprego teria alcançado 12% ainda este ano.
A mudança no comportamento da PEA pode ser efeito do desalento. “Períodos prolongados de recessão e desemprego, que levam à queda da renda e à maior dificuldade de encontrar trabalho, tendem a elevar a desistência pela busca por emprego e a exacerbar o efeito desalento”, avaliam os pesquisadores da FGV Bruno Ottoni Eloy Vaz e Tiago Cabral Barreira, responsáveis pela análise.
-751 mil postos de trabalho
O setor que mais demitiu neste ano foi o comércio, com o fechamento de 247 mil vagas formais. Atrás dele está a construção civil (-225 mil vagas), serviços (-199 mil) e a indústria (-142 mil vagas). A agricultura e a administração pública foram os únicos que abriram mais postos de trabalho do que fecharam no ano, com saldo positivo de 61 mil e 15 mil respectivamente. Ao todo, foram 751 mil vagas fechadas no acumulado até outubro, descontadas as contratações, segundo o Caged.
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