| Foto: Reprodução/YouTube

A campanha publicitária preparada pela BRF em reação à Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, deixou uma dúvida no ar: quem é o “nosso fundador” a quem a companhia se refere ao fim das propagandas veiculadas no fim de semana na tevê, em jornais e outros veículos?

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Em dois comerciais, o locutor atribui a “nosso fundador” duas frases parecidas. A primeira diz: “A gente só produz os alimentos que a gente coloca na mesa de nossa família”. A segunda, do vídeo mais recente, afirma: “Nós só produzimos os alimentos que colocaríamos na mesa de nossa família”.

A expressão pomposa e a falta de identificação do fundador viraram motivo de piada, em meio à torrente de menções negativas à BRF e várias outras empresas após a revelação do esquema criminoso investigado pela Polícia Federal.

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Na internet, houve quem lembrasse do personagem Lord Voldemort, da série de livros e filmes “Harry Potter”, que de tão temido era conhecido por “Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado”.

Contatada pela Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa da BRF avisou que o fundador é Atílio Fontana. Uma resposta que dá margem a controvérsias.

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Fontana, que morreu em 1989, foi o fundador da Sadia, uma das duas gigantes do setor de alimentos que, em 2009, deram origem à BRF. A outra empresa é a Perdigão, que é dez anos mais velha que a Sadia e, na prática, foi a protagonista daquela fusão.

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A menção de Fontana como fundador da BRF – o que, de certa forma, põe a Sadia na posição de protagonista do grupo – chama atenção também porque, nas mesmas propagandas, o grupo fala de seus “82 anos de história”, mesma idade da Perdigão.

Rivalidade

Sadia e Perdigão nasceram no interior de Santa Catarina, na primeira metade do século passado, pelas mãos de descendentes de italianos. Concorreram pelos mesmos mercados durante a maior parte de suas trajetórias. Seus acionistas e funcionários alimentaram por décadas uma rivalidade acirrada.

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A Perdigão foi criada em 18 de agosto de 1934 em Vila das Perdizes, onde hoje é o município de Videira, pelos sócios Ângelo Ponzoni e Saul Brandalise. Eles abriram o armazém de secos e molhados Ponzoni, Brandalise & Cia, às margens do Rio do Peixe. A primeira operação industrial foi um abatedouro de suínos, inaugurado em 1939. O conhecido logotipo com o casal de Perdizes foi criado pouco depois, em 1942.

A Sadia, por sua vez, foi fundada por Atílio Fontana em 7 de junho de 1944 em Concórdia, a cerca de 140 quilômetros de Videira. Fontana comprou um frigorífico em dificuldades chamado S. A. Indústria e Comércio Concórdia, logo rebatizado de Sadia. O nome veio da junção de S e A (de “sociedade anônima”) com as últimas três letras da palavra Concórdia.

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Ao longo do tempo, a Sadia se impôs. Até poucos anos antes da fusão, era uma empresa maior e mais conhecida que a Perdigão. Chegou a tentar comprar a rival em 2006, com uma proposta que entrou para a história como a primeira “oferta hostil” do capitalismo brasileiro.

Reviravolta

O quadro virou em seguida. Com a compra da Eleva Alimentos, em 2007, a Perdigão virou a maior empresa de alimentos do país. No ano seguinte, abalada pela crise financeira global, a Sadia quase foi à bancarrota.

Apostas ousadas em derivativos do mercado cambial provocaram um prejuízo de R$ 2,5 bilhões quando o dólar disparou, logo após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. Foi a primeira vez que a empresa fechou o ano no negativo.

É por isso que muitos consideram que, em 2009, não houve exatamente uma fusão, e sim a compra da Sadia, que estava praticamente pela falida, pela Perdigão, que àquela altura era uma empresa maior e com finanças mais saudáveis.

PRIMEIRO PREJUÍZO

A BRF sofreu em 2016 o primeiro prejuízo de sua história. A empresa fechou o ano com resultado líquido negativo de R$ 372 milhões, após lucro de R$ 2,93 bilhões no ano anterior. O resultado levou o presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz, a anunciar uma reformulação na gestão.

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