Enquanto o mundo vê a Samsung enfrentar o que possivelmente deve ser o pior lançamento de um celular na história, muitos sorrisos devem estar se formando no rosto de funcionários que percorrem os corredores do Google.
A Samsung é uma parceira crucial para a gigante de buscas e seu sistema móvel operacional Android. Tanto que Android e Samsung se tornaram praticamente sinônimos para muitos consumidores hoje em dia – algo que o Google sem dúvida não comemora tanto assim. Para mudar essa percepção, a gigante de buscas decidiu apostar em seus próprios celulares, lançados na semana passada com o nome de Pixel e Pixel XL.
O movimento do Google em direção ao concorrido mercado global de celulares não poderia ocorrer em melhor hora. A Samsung, líder mundial do setor em número de vendas, está enfrentando aquela que pode ser a maior crise de sua história. Primeiro, seu novo modelo top de linha, o Galaxy Note 7, começou a sofrer problemas com baterias que pegavam fogo. Em seguida, descobriu-se que os aparelhos que estavam substituindo os defeituosos também estavam com os mesmos problemas. E, nesta terça-feira (11), a Samsung enfim anunciou que vai interromper temporariamente a produção e venda do Note 7.
Os efeitos da crise já são claros. Cerca de um terço dos usuários de celulares da Samsung afirmaram que não vão mais comprar aparelhos da fabricante depois do problema com o Note 7, de acordo com uma pesquisa feita pela consultoria Branding Brand – a pesquisa foi feita antes das notícias de que os aparelhos que substituíram os antigos também estavam pegando fogo.
Enquanto isso, a Apple, a outra rival do Google no mundo mobile, tem sido alvo de críticas sobre sua incapacidade de continuar sendo uma empresa realmente inovadora. Muitos analistas que expressaram essa preocupação não se empolgaram com o iPhone 7, que deu alguns pequenos passos à frente e trouxe fones de ouvido sem fio – uma decisão considerada controversa.
O Google conseguiu inclusive alfinetar a Apple durante o lançamento do Pixel, que custará US$ 769, dizendo que seu novo smartphone é realmente inovador, mas manteve a saída para o fone de ouvido. A gigante de buscas também se gabou, em tom de brincadeira, sobre a cor “shade of blue” do celular, o que pode ser uma paródia da excitação genuína da Apple ao falar sobre sua nova cor “shade of black”.
Golpe fatal
Mas o tropeço da Samsung, e o estrago já feito pelo episódio das baterias explosivas, é talvez um “presente” ainda maior para o Google. Muitos consumidores “anti-iPhone” recorreram aos celulares da Samsung como uma preferência de escolha. Com tantos usuários admitindo que estão preocupados quanto a outros modelos da fabricante sul-coreana – embora nenhum outro aparelho da marca tenha apresentado os mesmos problemas em uma escala semelhante à do Note 7 –, o Pixel do Google pode preencher essa lacuna que surgirá com a crise da Samsung.
Para agravar a situação ainda mais, a interrupção das vendas e da produção do Note 7 ocorre justamente às vésperas da Black Friday e do fim de ano, quando tradicionalmente as fabricantes conseguem alavancar seus negócios.
“Eu acho que na corrida para lançar seu novo produto, a Samsung obviamente não o estudou o suficiente. E, agora, está sofrendo as consequências dessa falta de cuidado”, afirma Jeff Kagan, analista da área de telecomunicações. “A situação é devastadora para a Samsung neste momento e continuará sendo daqui em diante”, completa.
Apesar da Samsung ter defendido inicialmente que a grande maioria dos compradores do Note 7 estavam trocando seus celulares por outros modelos da Samsung, rumores e depoimentos espalhados pela internet indicam que isso está longe de ser verdade. Além disso, as operadoras AT&T e T-Mobile se adiantaram e pararam de trocar os aparelhos nos Estados Unidos antes mesmo da própria Samsung decidir interromper a venda.
De qualquer forma, não há garantias de que o Google vai conseguir, com seus novos celulares, aproveitar a situação e preencher o vácuo no mercado deixado pelo Note 7. Os smartphones Pixel estão disponíveis por enquanto apenas por meio de um pacote com a operadora Verizon, a menos que os consumidores queiram pagar um preço mais alto pelo aparelho desbloqueado na própria loja online do Google. A Verizon é a maior operadora dos Estados Unidos, mas a parceria exclusiva pode limitar as vendas dos celulares.
Ainda assim, mesmo que os smartphones do Google não sejam a alternativa principal ao iPhone neste fim de ano, a gigante de buscas provavelmente vai ver outras fabricantes que usam o Android ganhando espaço e aumentando as vendas nos próximos meses.
“Enquanto essas são péssimas notícias para a Samsung, podem ser ótimas notícias para seus concorrentes”, completa Kagan. “LG, Lenovo, Huawei e muitas outras marcas de celulares que usam Android vão rapidamente preencher o buraco deixado pela crise da Samsung”.