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Um em cada quatro brasileiros é pobre, de acordo com a pesquisa Sínteses dos Indicadores Sociais (SIS), do IBGE, cuja última edição se debruçou sobre os indicadores de 2019. Nos últimos anos, houve um encolhimento da proporção de pobres, que fechou o último ano no patamar de 24,8%, o que representa 51,7 milhões de brasileiros, enquanto a quantidade de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza permaneceu estável nos últimos dois anos, em 6,5% – equivalente a 13,7 milhões de pessoas.
Apesar dessas variações, o perfil dessas pessoas vêm se mantendo o mesmo ao longo do tempo. A maioria dos pobres no Brasil é de mulheres, negros e pessoas com pouca instrução. A SIS mostrou que, entre os brasileiros abaixo da linha da pobreza no Brasil (considerando os critérios do Banco Mundial, de renda per capita diária inferior a US$ 5,50 para pobres e US$ 1,90 para extremamente pobres), mais de 70% eram negros ou pardos. Esse grupo representava 56,3% da população total.
Isso quer dizer que a maioria dos 117,9 milhões de brasileiros que se declararam negros ou pardos em 2019 vivia na pobreza. De acordo com a SIS, 8,9% deles (ou 10,5 milhões) eram extremamente pobres e 32,3% (ou 38,1 milhões), pobres.
As mulheres também são mais vulneráveis à pobreza. Em 2019, havia 108,4 milhões de mulheres – o que correspondia a 51,7% da população, das quais 26,9 milhões eram pobres e 7,2 milhões, extremamente pobres.
“A observação de categorias de desagregação articuladas entre si reflete outras perspectivas para a desigualdade, com dimensões que se reforçam mutuamente e ampliam as vulnerabilidades para determinados grupos”, observam os pesquisadores que elaboraram a SIS.
Nesse caso, mulheres negras e pardas são mais afetadas pela pobreza. Embora elas representem 28,7% da população total (60,1 milhões), são o grupo mais numeroso entre os pobres (38,1% ou 19,7 milhões) e extremamente pobres (39,8% ou 5,4 milhões).
A incidência de pobreza também é maior nas famílias formadas apenas pelas mulheres negras ou pardas, sem companheiro, e com filhos menores de 14 anos.
Entenda o perfil de quem são os pobres no Brasil
Desigualdade persistente no país
O coordenador da SIS, João Hallak, explicou, na época do lançamento da pesquisa, algumas das razões para a predominância de mulheres e negros nos grupos mais pobres da população. Em linhas gerais, estão relacionadas a dois fatores principais: baixa escolaridade e trabalhos precários. Ele observou que a população negra ou parda é mais vulnerável, e é o grupo que registra maiores taxas de desocupação de trabalho e menores rendimentos médios.
“A população de cor ou raça preta ou parda está mais presente na informalidade, possui menos anos de estudo, está em atividades que remuneram menos, então tudo isso contribui para que a renda do trabalho seja menor. Certamente, todos esses elementos tanto do mercado de trabalho quanto de fora do mercado de trabalho fazem com que tenham um rendimento domiciliar per capita inferior e se insiram relativamente mais nessas categorias de pobreza e extrema pobreza”, declarou Hallak à Agência IBGE.
Segundo ele, o fato de desempenharem mais atividades no mercado de trabalho informal, que é uma característica histórica, amplia a vulnerabilidade das mulheres e negros, que têm acesso limitado a benefícios como aposentadoria por tempo de contribuição e licenças remuneradas, como as de afastamento por motivo de saúde ou maternidade.
A analista da pesquisa Barbara Cobo avalia que os dados revelados pela SIS evidenciam “a pouca mudança estrutural na distribuição de renda na população ao longo dos anos”. Para ela, a análise das linhas de pobreza ressalta a perpetuação das diferenças entre negros e brancos. “Entre a população pobre, tem sobrerrepresentação de pretos e pardos, em particular entre os 10% menores rendimentos. Pretos e pardos perfaziam 77% desse segmento, quando na população de forma geral eram 56%”, diz.
Em 2019, o contingente de negros ou pardos pobres (38,1 milhões) era 2,8 vezes maior que o de brancos pobres (13,2 milhões). Essa concentração era ainda maior no grupo de extremamente pobres. De acordo com a SIS, eram 10,5 milhões de negros e pardos nessa situação – quase 3,5 vezes o contingente de brancos, que somava 3 milhões.
Os números mostram que o país segue sendo um dos mais desiguais do mundo. O índice de Gini, que mensura as diferenças de rendimento entre os mais ricos e mais pobres, foi de 0,543 em 2019, o que torna o Brasil o nono país mais desigual do mundo, de acordo com um ranking do Banco Mundial.