Conhecer as praias mais famosas do mundo, passar os dias em alto mar e ainda receber em dólar. Essa costuma ser a rotina de quem decidiu abandonar a terra firme para trabalhar em um dos diversos cruzeiros que navegam pela costa brasileira. E, o que antes era um caminho profissional pelo qual poucos se aventuravam, se tornou uma alternativa de carreira bem comum.
Como aponta o gerente de embarque da recrutadora Rosa dos Ventos Brasil, Danilo de Lima, a busca por oportunidades a bordo de embarcações disparou ao longo do último ano, impulsionada pela piora da economia no país. “Antes, tínhamos mais vagas disponíveis do que candidatos interessados. Mas, do final de 2014 para cá, essa situação se inverteu”, conta.
Para Lima, que já trabalhou durante quatro anos em um cruzeiro, a valorização da moeda americana atraiu principalmente quem está interessado em fazer uma reserva financeira. Com salário médio variando entre US$ 1 mil e US$ 2 mil, o profissional não tem nenhuma despesa em alto mar. “A companhia responsável pelo cruzeiro fornece alimentação, uniformes e tudo o mais o que você precisa. Então, é uma ótima forma de guardar dinheiro”, detalha o gerente de embarque, que destaca ainda as experiências e os lugares que conhece como outros grandes atrativos.
Oportunidades o ano todo
Mesmo com a procura constante, a gerente da recrutadora ISMBR Carolina Coelho garante que há oportunidades o ano inteiro. Como há uma lei brasileira que exige que a tripulação dos navios que passam mais de 30 dias em território nacional seja composta de 25% de brasileiros, as empresas responsáveis pelos cruzeiros estão sempre contratando.
É claro, porém, que a oferta se torna maior durante a alta temporada. “Todo mês há requisição por novos funcionários, mas é a partir de junho que o número de vagas praticamente dobra”, conta Coelho. Segundo ela, a média é que os contratados passem três meses na costa brasileira e outros cinco navegando em águas internacionais. “Mas não são raros os casos de pessoas que passam todo o período fora do Brasil”.
Embora os contratos não costumem passar dos oito meses de duração, a gerente revela que a renovação é algo comum e bastante simplificada. Dependendo do seu desempenho na viagem, a companhia oferece uma dispensa de dois meses de “férias” e já entrega uma carta de reembarque que facilita o retorno. “Às vezes, a avaliação é tão boa que a pessoa começa a crescer em cada viagem, ocupando postos melhores”.
Vida dura
A vida de sombra e água fresca é reservada apenas aos passageiros, já que a rotina de trabalho em um cruzeiro tende a ser bastante dura. “É um trabalho pesado, de 11 horas por dia e sete dias por semana”, alerta Coelho. E há ainda o risco de a pessoa não se adaptar da vida em alto mar, longe da família e amigos. “Tem gente que não consegue. É preciso ter um perfil bem adaptável para se adequar. Mas quem gosta, fica por quatro ou cinco anos”.
Outro ponto importante a ser levado em conta antes de se arriscar a bordo de um cruzeiro é que, por ser um contrato internacional, ele não está sujeito à CLT. Desse modo, o profissional não conta com nenhum dos benefícios oferecidos no Brasil e nem terá sua carteira de trabalho assinada.
Ainda assim, Lima recomenda a experiência para qualquer pessoa. “Não é algo para se levar para a vida toda, mas ainda vale muito a pena.”