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Mina de ferro da Vale em Carajás, no Pará: como a bolsa brasileira é muito ligada a commodities, sofre mais em períodos de incerteza sobre a demanda global | Divulgação
Mina de ferro da Vale em Carajás, no Pará: como a bolsa brasileira é muito ligada a commodities, sofre mais em períodos de incerteza sobre a demanda global| Foto: Divulgação

"Seguro", dólar tem maior alta desde 2010

A queda nas bolsas e a fuga dos investidores para ativos considerados seguros levaram o dólar a fechar na maior alta desde outubro de 2010. No fim dos negócios de ontem, a moeda foi negociada por R$ 1,613, em alta de 1,44% no dia.

Para André Ferreira, diretor da Futura Corretora, há um paradoxo nos mercados. "Com o problema nos EUA, as pessoas fogem para o dólar e não do dólar. Se eles fogem para o dólar porque o lugar seguro em momentos de crise são os EUA, por que a gente está discutindo o downgrade [rebaixamento da nota da dívida norte-americana]?", questiona. Para ele, enquanto a volatilidade estiver grande no mercado de ações, a tendência do dólar é de alta.

Além disso, diz Ferreira, os investidores ainda estão bastante confusos com as medidas implementadas pelo governo para reduzir a valorização do real no país – a principal foi a taxação das operações com derivativos, que agora pagam 1% de Imposto sobre Operações Finan­ceiras (IOF).

Governo

Dilma pede que brasileiro siga consumindo, mas sem excessos

Diante do agravamento das tensões em relação à economia dos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff pediu que os brasileiros não deixem de consumir, mas sem excessos. E disse que "o Brasil não é uma ilha isolada no mundo" e não está "imune" à crise internacional. A fala da presidente refletiu a avaliação interna da equipe econômica, que acha que o cenário "não é para brincadeira": pode ser benéfico para o combate à inflação, mas "perigoso" para o crescimento da economia.

Escalado para resumir o discurso do governo, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, alertou que o Brasil poderá crescer menos que 4% neste ano se a crise se prolongar. Mantega não quis dar detalhes do que o governo planeja fazer para se proteger da crise, o que seria "prematuro".

O governo decidiu reforçar a percepção de que o país está hoje melhor do que em 2008 e mesclar "cautela na área fiscal" com acompanhamento do crescimento, para evitar um "tombo" no PIB. A preocupação esteve presente na entrevista dada ontem por Dilma, quando pediu que "todos os segmentos do país [tenham] muita tranquilidade, muita calma e nenhum excesso". O conselho para que a população não pare de consumir lembrou o discurso do ex-presidente Lula na crise de 2008. O governo, à época, adotou medidas para aumentar o consumo e manter a economia aquecida.

A presidente, porém, reforçou sua preocupação com o lado fiscal, apontado por ela como a principal fragilidade de economias desenvolvidas e responsável por boa parte da piora da crise. "[Temos de ter] percepção de que não podemos brincar e sair por aí gastando o que não temos", afirmou. Dilma fez questão de ressaltar a estabilidade do Brasil, e criticou economias desenvolvidas: "Não há política fiscal na Europa e não há política fiscal nos EUA", disse.

Ao fim da conversa com os jornalistas, Dilma foi perguntada se a nova crise era também uma "marolinha" – termo utilizado por Lula em 2008 para se referir o efeito que a crise econômica daquele ano teria no Brasil. Ela riu, mas preferiu não responder. (Folhapress)

Vale e Petrobras perderam

R$ 42,6 bilhões em valor de mercado apenas no pregão de ontem. O desempenho da estatal foi prejudicado pela queda do petróleo (6%) em Nova York. No caso da mineradora, há dúvidas sobre a manutenção da demanda por commodities metálicas, especialmente na China. No total, as companhias listadas na bolsa paulista perderam R$ 146,98 bilhões – a Marfrig, do setor frigorífico, teve queda de 25,75%, a maior baixa de ontem; em seguida veio a OGX, petrolífera de Eike Batista, que caiu 16,36%.

  • Enquanto as bolsas estiverem voláteis, o dólar tende a subir, dizem especialistas

Em meio à queda vertiginosa dos mercados mundiais após o rebaixamento da nota de risco dos Estados Unidos, uma pergunta vem intrigando muitos investidores no Brasil: por que a BM&F Bovespa, como vem ocorrendo desde o início do ano, está sofrendo muito mais do que as outras bolsas de países emergentes?

A resposta está menos nos problemas dos outros e mais nas questões domésticas. A preocupação com a crise das dívidas soberanas na zona do euro e com o risco de recessão nos EUA afeta, de fato, as ações brasileiras, assim como as de outros países emergentes. Mas a bolsa brasileira sofre mais por uma questão técnica – ela é mais volátil que as demais bolsas emergentes – e também por motivos relacionados à conjuntura econômica brasileira: a preocupação com o real sobrevalorizado, a inflação e os juros elevados.

"Em momentos de extrema aversão ao risco, bolsas mais voláteis, como a do Brasil, tendem a ser mais atingidas do que todas as outras. Aliás, a Bovespa é uma das bolsas mais voláteis do mundo", explica Jennifer Delaney, estrategista de ações para mercados emergentes do banco UBS em Nova York. "O Brasil é um mercado exposto aos preços de commodities e, assim, a Bovespa fica mais sensível ao cenário externo."

Segundo Delaney, o "índice beta" (uma medida de volatilidade de um ativo) da Bovespa é de 1,2 em relação à média das outras bolsas emergentes. Ou seja, a Bovespa cai muito mais quando as outras bolsas de países emergentes baixam, mas também sobe mais quando o movimento é de alta nos outros mercados.

Matérias-primas

Para Greg Lesko, diretor-gerente da Deltec Asset Management em Nova York, que tem US$ 850 milhões em ativos, dos quais quase US$ 200 milhões investidos na Bovespa, outra fonte de pressão mais forte sobre a bolsa doméstica é a preocupação com o crescimento da economia se houver um freio na demanda mundial pelas exportações de matérias-primas brasileiras.

Segundo Lesko, como os investidores internacionais compraram nos últimos anos ações de empresas brasileiras em razão do crescimento econômico, eles agora estão preocupados com a recessão mundial e o seu impacto na atividade econômica do país. "Os juros tão altos no Brasil também acabam fazendo com que a bolsa tenha um concorrente na disputa pelo dinheiro estrangeiro, que são os títulos de renda fixa", diz Lesko.

Outro fator doméstico desestimula os investidores estrangeiros em período de tensão: a cobrança de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos em ações. "Num momento como esse, pagar esse imposto desestimula."

A taxa de câmbio valorizada é outro fator que vem afetando o desempenho das ações neste ano, segundo Jennifer Delaney, do UBS. "Uma moeda que muitos investidores percebem como sobrevalorizada afeta as exportações e o sentimento sobre o mercado doméstico, uma vez que muitos investidores não querem ficar com aplicações expostas a uma moeda que pode vir a se desvalorizar", diz.Selic deve permanecer estável

O ex-secretário de Política Econô­mica José Roberto Mendonça de Barros afirmou que, em função do agravamento da crise econômica internacional, está afastada a hipótese de o Banco Central subir a taxa básica de juros na reunião de 31 de agosto. No entanto, o Copom deve continuar a ser cauteloso e esperar a divulgação de dados econômicos nas próximas semanas para tomar sua decisão de política monetária. "Hoje, pessoalmente, avalio que o BC não deveria baixar juros no fim deste mês", comentou.

Na avaliação de Mendonça de Barros, alguns fatos indicam que o BC não deveria partir para uma mudança na trajetória da política monetária no curto prazo, sendo que ele defende que os juros fiquem estáveis em 12,50% ao ano até dezembro. "A crise é grave, mas não deve ocorrer deflação mundial", disse.

Segundo ele, Estados Unidos e Europa enfrentam problemas difíceis, mas não estão tão interconectados, especialmente em relação à exposição de bancos norte-americanos a títulos europeus. Para Mendonça de Barros, os EUA devem registrar crescimento muito baixo, mas não devem mergulhar numa recessão aguda. Por outro lado, ele pondera que na Europa as medidas adotadas por autoridades são dependentes do avanço da crise, pois há algumas semanas a disposição de atacar dificuldades de economias na região era bem inferior à registrada nos últimos dias.

Focus

O mercado financeiro também passou a estimar que a Selic terminará o ano em 12,50%, segundo o boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central. Até então, os analistas acreditavam que a taxa básica de juros no fim de 2011 seria de 12,75%. A previsão para o fim de 2012 foi mantida, também em 12,50%.

De acordo com a pesquisa, também caíram as expectativas para a inflação oficial neste ano (de 6,31% para 6,28%, ainda distante do centro da meta de inflação, que é de 4,5%) e para o crescimento do Produto Interno Buto de 2011 (de 3,96% para 3,94%). A previsão para o dólar, no fim do ano, foi mantida em R$ 1,60.

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