O fraco crescimento da economia levou a presidente Dilma Rousseff a anunciar mais um pacote de medidas de estímulo à economia, desta vez baseado em um aumento nos gastos do governo. O governo cortou a taxa de juros para investimentos e ampliou para R$ 8,4 bilhões os gastos que pretende fazer até dezembro com a compra de equipamentos. O pacote batizado de PAC Equipamentos ajuda segmentos específicos da indústria, mas será insuficiente para alterar o quadro de baixo crescimento econômico previsto para este ano.
"Temos de continuar com as políticas de estímulo" disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Do total a ser gasto com compras, R$ 1,8 bilhão já estava previsto no Orçamento deste ano. Os restantes R$ 6,6 bilhões serão complementados por uma medida provisória.
A indústria de transportes será a principal beneficiada com a ampliação das compras governamentais. A lista inclui a aquisição de 8 mil caminhões, 3 mil patrulhas agrícolas (conjunto formado por trator e implemento), 3.591 retroescavadeiras, 1.330 motoniveladoras, 2.125 ambulâncias, entre outros equipamentos. Em ano eleitoral, a maior parte dos equipamentos será distribuída a prefeituras, mas Mantega garantiu que a lei eleitoral será respeitada.
Para tentar convencer as empresas a tirar das prateleiras os projetos de investimento, a presidente Dilma Rousseff determinou à equipe econômica que cortasse de 6% para 5,5% a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que baliza os empréstimos que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social concede para as companhias. A taxa não era alterada desde 2009.
Pouco dinheiro
Para os especialistas, o pacote será insuficiente para alavancar os investimentos, porque os juros do BNDES já são baixos e porque o volume de compras de equipamentos envolvidos não é tão expressivo. Nas contas de Braúlio Borges, economista-chefe da LCA, se todas as aquisições forem realmente realizadas até o fim do ano, o pacote elevaria em taxa de investimento do país em apenas 0,2% do PIB. "O pacote é bom porque estimula o investimento e não o consumo, mas esperávamos algo mais ousado para estimular o setor privado a investir", disse.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, disse que as medidas são "importantes para os setores envolvidos", mas não irão alterar a expectativa de crescimento da indústria em 2012. A expansão estimada para este ano é de algo entre 2% e 2,5%.
Indústria reclama de falta de incentivo federal
Tatiane Salvatico, da Gazeta Maringá
As medidas anunciadas pelo governo federal desagradam, especialmente, o setor industrial. "Esperamos que o governo faça novos anúncios e apoie a indústria que tem sofrido com a concorrência internacional", defendeu o presidente da Federação de Indústrias do Paraná, Edson Campagnolo.
Os polos moveleiro e têxtil das regiões Norte e Noroeste do estado reclamam que não foram contemplados pelos últimos anúncios do governo. "Estamos desassistidos há muito tempo. Posso assegurar que os incentivos recebidos até agora foram insuficientes", afirma o presidente do Sindicato de Vestuário de Maringá (Sindvest), Cássio Almeida. Para ele, outros setores recebem muita assistência enquanto o têxtil seria esquecido pelo governo federal. Ele defende que, com o mesmo valor de R$ 500 mil, disponibilizado para a compra de uma colheitadeira facilitada por opções de linha de crédito, por exemplo, é possível comprar 250 máquinas de costura e empregar 250 pessoas.
A reivindicação é compartilhada pelo setor moveleiro, que pede incentivo do governo federal para se tornar mais competitivo diante dos baixos preços dos móveis fabricados na China e Indonésia. O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Paraná (Simov), Aurélio Santanna, afirma que o alto custo das máquinas se reflete no preço do móvel ao consumidor. "É um efeito cascata. Precisamos de melhores condições para o investimento em automação e redução de juros mais agressiva", prescreve.
A produção de móveis emprega 40 mil pessoas, especialmente nos polos de Arapongas e da Região Metropolitana de Curitiba. "O investimento para um posto de trabalho no setor automotivo, por exemplo, é o equivalente ao investimento de oito vagas no setor moveleiro", explica.
O professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas Samy Dana é mais cauteloso ao analisar as medidas do governo federal. Ele defende que o novo pacote contempla setores como saúde, educação e transporte, que, de acordo com o professor, são essenciais para que o país saia da condição de emergente para o de potência. "A indústria tem que aproveitar quando existe incentivo e crescer. Não pode ficar sempre dependendo do governo", afirma. Segundo ele, as medidas do PAC Equipamentos ajudam a economia, mas não devem ter o impacto esperado pelo governo. "São medidas de longo prazo", resume.