Ônibus escolares recém-comprados, alinhados nas ruas de Brasília: compras “turbinadas” para fortalecer o crescimento| Foto: Antonio Cruz/ABr

A Conta-Gotas

Além de forçar seus bancos a reduzir juros (o que acabou por obrigar instituições privadas a fazer o mesmo), o governo anunciou nos últimos três meses outras medidas para estimular a economia. Veja algumas delas:

• 3 de abril – BNDES reduz juros do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), voltado para máquinas e equipamentos, e do Progeren, para capital de giro.

• 20 de maio – Tesouro anuncia a liberação R$ 10 bilhões para reforçar a capacidade de empréstimos do BNDES.

• 21 de maio – Governo baixa três medidas para incentivar a compra de carros: reduz o IPI e o IOF, além de liberar parte dos empréstimos compulsórios dos bancos para que eles financiem mais esse setor. No mesmo dia, o governo anuncia nova queda nos juros do BNDES. Ao todo, o pacote soma R$ 2,719 bilhões.

• 5 de junho – Caixa amplia de 30 para 35 anos o prazo máximo de financiamento de imóveis.

• 14 de junho – Para facilitar a captação de dinheiro no exterior, o governo reduz o alcance do IOF. Antes, o imposto era cobrado para empréstimos de até cinco anos; esse prazo caiu para até dois anos.

• 27 de junho – Governo reduz a TJLP de 6% para 5,5% e anuncia compras de máquinas e equipamentos no valor de R$ 8,435 bilhões.

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"Não podemos brincar à beira do precipício", diz Dilma

Folhapress

No lançamento de seu mais recente pacote de medidas anticrise, a presidente Dilma Rousseff afirmou que a crise financeira internacional preocupa, mas não amedrontra o Brasil. Ela afirmou que o governo tem mecanismos para enfrentar a crise e vai utilizá-los "sem restrição". "Não podemos ter a soberba de achar que podemos brincar à beira do precipício ou tomar medidas que se tomariam mais fácil em tempos normais", afirmou.

A presidente, que classificou o momento atual como "conjuntura econômica conturbada" e definiu o euro com um projeto ainda "incompleto", assegurou que o Brasil resistirá à crise econômica global porque adotou um modelo de crescimento baseado no fortalecimento do mercado interno.

Para Dilma, apesar de "sóbrio", o governo brasileiro está otimista e vai continuar adotando medidas para proteger a produção e os empregos no país. A presidente reconheceu que o investimento privado tem recuado, em função do cenário econômico, e por isso defendeu o aumento do investimento público. "Diante de momentos críticos, o investimento privado recua, porque ele é pró-cíclico, faz com que nós tenhamos de avançar no investimento público, que é em obras, em equipamentos e máquinas, é em demanda de investimento, bens de capital do setor produtivo brasileiro, assegurando que não haja interrupção", afirmou.

Pacote ajuda indústria de máquinas agrícolas do PR

Governo vai comprar 3 mil tratores e implementos, produtos fabricados por empresas como CNH e Montana. Também estão na lista mais de 16 mil ônibus e caminhões

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Dilma e Mantega: sobriedade contra a crise

O fraco crescimento da economia levou a presidente Dilma Rousseff a anunciar mais um pacote de medidas de estímulo à economia, desta vez baseado em um aumento nos gastos do governo. O governo cortou a taxa de juros para investimentos e ampliou para R$ 8,4 bilhões os gastos que pretende fazer até dezembro com a compra de equipamentos. O pacote – batizado de PAC Equipamentos – ajuda segmentos específicos da indústria, mas será insuficiente para alterar o quadro de baixo crescimento econômico previsto para este ano.

"Temos de continuar com as políticas de estímulo" disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Do total a ser gasto com compras, R$ 1,8 bilhão já estava previsto no Orçamento deste ano. Os restantes R$ 6,6 bilhões serão complementados por uma medida provisória.

A indústria de transportes será a principal beneficia­da com a ampliação das compras governamentais. A lista inclui a aquisição de 8 mil caminhões, 3 mil patrulhas agrícolas (conjunto formado por trator e implemento), 3.591 retroescavadeiras, 1.330 motoniveladoras, 2.125 ambulâncias, entre outros equipamentos. Em ano eleitoral, a maior parte dos equipamentos será distribuída a prefeituras, mas Mantega garantiu que a lei eleitoral será respeitada.

Para tentar convencer as empresas a tirar das prateleiras os projetos de investimento, a presidente Dilma Rousseff determinou à equipe econômica que cortasse de 6% para 5,5% a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que baliza os empréstimos que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social concede para as companhias. A taxa não era alterada desde 2009.

Pouco dinheiro

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Para os especialistas, o pacote será insuficiente para alavancar os investimentos, porque os juros do BNDES já são baixos e porque o volume de compras de equipamentos envolvidos não é tão expressivo. Nas contas de Braúlio Borges, economista-chefe da LCA, se todas as aquisições forem realmente realizadas até o fim do ano, o pacote elevaria em taxa de investimento do país em apenas 0,2% do PIB. "O pacote é bom porque estimula o investimento e não o consumo, mas esperávamos algo mais ousado para estimular o setor privado a investir", disse.

O presidente da Confe­de­ração Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de An­drade, disse que as medidas são "importantes para os setores envolvidos", mas não irão alterar a expectativa de crescimento da indústria em 2012. A expansão estimada para este ano é de algo entre 2% e 2,5%.

Indústria reclama de falta de incentivo federal

Tatiane Salvatico, da Gazeta Maringá

As medidas anunciadas pelo governo federal desagradam, especialmente, o setor industrial. "Esperamos que o governo faça novos anúncios e apoie a indústria que tem sofrido com a concorrência internacional", defendeu o presidente da Federação de Indústrias do Paraná, Edson Campagnolo.

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Os polos moveleiro e têxtil das regiões Norte e Noroeste do estado reclamam que não foram contemplados pelos últimos anúncios do governo. "Estamos desassistidos há muito tempo. Posso assegurar que os incentivos recebidos até agora foram insuficientes", afirma o presidente do Sindicato de Vestuário de Maringá (Sindvest), Cássio Almeida. Para ele, outros setores recebem muita assistência enquanto o têxtil seria esquecido pelo governo federal. Ele defende que, com o mesmo valor de R$ 500 mil, disponibilizado para a compra de uma colheitadeira facilitada por opções de linha de crédito, por exemplo, é possível comprar 250 máquinas de costura e empregar 250 pessoas.

A reivindicação é compartilhada pelo setor moveleiro, que pede incentivo do governo federal para se tornar mais competitivo diante dos baixos preços dos móveis fabricados na China e Indonésia. O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Paraná (Simov), Aurélio Sant’anna, afirma que o alto custo das máquinas se reflete no preço do móvel ao consumidor. "É um efeito cascata. Precisamos de melhores condições para o investimento em automação e redução de juros mais agressiva", prescreve.

A produção de móveis emprega 40 mil pessoas, especialmente nos polos de Arapongas e da Região Metropolitana de Curitiba. "O investimento para um posto de trabalho no setor automotivo, por exemplo, é o equivalente ao investimento de oito vagas no setor moveleiro", explica.

O professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas Samy Dana é mais cauteloso ao analisar as medidas do governo federal. Ele defende que o novo pacote contempla setores como saúde, educação e transporte, que, de acordo com o professor, são essenciais para que o país saia da condição de emergente para o de potência. "A indústria tem que aproveitar quando existe incentivo e crescer. Não pode ficar sempre dependendo do governo", afirma. Segundo ele, as medidas do PAC Equipamentos ajudam a economia, mas não devem ter o impacto esperado pelo governo. "São medidas de longo prazo", resume.

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