Diante do cenário doméstico de ajustes macroeconômicos em mais um ano com perspectivas de demanda fraca, a Randon vai mirar o mercado externo em 2015, visando aproveitar o dólar valorizado. A empresa também diz não estar preocupada com o risco de um racionamento energético, por prever um ano de produção menor para acompanhar a queda na demanda, com menos gasto de energia. A projeção da companhia é de queda anual de 5% nas vendas de caminhões em 2015 no Brasil. "É o número que as montadoras têm nos enviado. No primeiro semestre esse número vai ser maior que 5%, mas ainda há uma expectativa positiva de que o número melhore para o segundo semestre", disse o vice-presidente da companhia, Daniel Randon, ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Segundo ele, a Randon vinha trabalhando com cerca de 25% a 30% de sua receita vinda do mercado externo, mas esse valor passou para 18% em 2014. "Vamos voltar a reforçar o trabalho no mercado de reposição e, com o dólar mais apreciado, trabalhar as oportunidades que temos no mercado externo. A Randon já exporta para vários países, mas vamos usar a oportunidade para buscar também outros mercados", afirmou o executivo.
Randon explicou ainda que a companhia está trabalhando junto a fornecedores e à área de engenharia para buscar alternativas que afetem o mínimo possível o custo com energia, tendo em vista o risco de um racionamento. "Não se sabe o tamanho do problema. Na medida em que vier alguma ação do governo que nos dê clareza em relação a isso, poderemos tomar alguma ação. A produção este ano vai ser menor, então vai ter consumo menor de energia. Não estamos preocupados porque esperamos um ano mais fraco", ressaltou. Segundo ele, as alternativas em vista pela companhia passam por redução de custos e melhoria de processos.
O executivo destacou o cenário mais pessimista para o crescimento do Brasil este ano e a perspectiva de financiamento mais difícil com taxas mais altas do PSI/Finame, linha de financiamento de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) responsável por financiar a maior parte dos implementos rodoviários da linha pesada. "O final do ano passado já mostrou um cenário de desaquecimento. A empresa buscou acordos de flexibilização da jornada de trabalho e também aproveitamos a virada do ano para fazer férias coletivas", disse Randon.
"Esses ajustes fiscais do governo sem dúvida colocam um horizonte de PIB mais pessimista do que era no final do ano passado, mas não podemos entrar em uma ideia de que tudo é crise", acrescentou, destacando oportunidades com a safra agrícola. O executivo também considera os ajustes necessários. "Por mais duras que sejam as ações, isso volta a dar confiança para o mercado referente ao Brasil. Os investidores olham o País com mais credibilidade por estar tomando as ações necessárias na parte dos ajustes", avaliou, destacando que esses sinais são importantes para o investidor de longo prazo.
A Randon pretende continuar trabalhando alternativas em áreas com demanda menor, como autopeças e montadoras. Segundo o vice-presidente da companhia, ainda há espaço para férias coletivas e a empresa estuda parar na semana do carnaval. "Nós vemos esse momento como um momento difícil, delicado, mas é cedo para tomar ação drástica", disse, ressaltando que a companhia vai priorizar ações que preservem o caixa e mantenham a mão de obra.
Segmento ferroviário
Outras áreas da Randon, porém, enxergam demanda mais forte e oportunidade de crescimento em 2015. É o caso da Fras-le, que desenvolve produtos para o mercado ferroviário. "No caso da Fras-le, com exposição maior ao mercado de reposição e mercado externo, este momento é de oportunidade de trabalho e crescimento", ressaltou Daniel Randon.
Para o diretor financeiro e de Relações com Investidores das Empresas Randon, Geraldo Santa Catharina, não há pessimismo nesse segmento. "Temos uma demanda bem positiva, com uma carteira já formada e que vai conseguir utilizar parte relevante da nossa capacidade de montagem. Conseguimos utilizar as mesmas pessoas e os mesmos equipamentos para outro produto com valor agregado bem maior", disse. O executivo destacou a construção em andamento de uma fábrica em Araraquara, que visa consolidar esse segmento, que deve produzir entre 3.500 e 4.000 vagões ferroviários por ano.
A fábrica, já em fase de terraplenagem do terreno, receberá investimentos previstos de R$ 500 milhões, dos quais R$ 100 milhões na primeira etapa, com a geração de até 2 mil empregos. "Já temos participação relevante nesse mercado. Isso justificou a construção da nova unidade", disse Santa Catharina.
Investimentos
Frente ao cenário desafiador, Daniel Randon ressaltou que a companhia não planeja investimentos altos em 2015. "No ano passado, fomos bem comedidos na parte de investimentos, focamos mais na melhoria de processos e aumento de capacidade", disse. Neste ano, os investimentos da Randon serão concentrados na fábrica de Araraquara, para produção de vagões, e na melhoria de processos.
"É um cenário de atenção, mas tem muita água para rolar. Agora é arrumar a casa, segurar os custos possíveis e trabalhar com um cenário pior do que se acreditava no ano passado", apontou o executivo.
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