Depoimento
Estatal recuperou vitalidade
A gestão de Ronald Thadeu Ravedutti à frente da Copel começou em 27 de abril e terminaria em 31 de dezembro. Foi ainda mais breve. Mas durou o suficiente para que os "copelianos" e o setor elétrico testemunhassem uma pequena revolução.
Funcionário da estatal havia 39 anos, Ravedutti deixou claro, no mesmo dia em que foi empossado pelo amigo Orlando Pessuti, que pretendia dar "um pouquinho mais de audácia" à companhia. E a empresa, até então engessada pelo conservadorismo na busca por novas concessões, subitamente recuperou a vitalidade.
Conforme prometido, Ravedutti lutou para devolver à Copel sua "condição histórica de grande empresa geradora e transmissora de energia elétrica". Levou a estatal para fora do estado pela primeira vez, arrematando a concessão de sistemas de transmissão em São Paulo e de uma hidrelétrica em Mato Grosso. Também convenceu o governador a liberar reajustes de tarifas represados desde 2009 medida impopular, mas que ajuda a recompor a lucratividade da Copel e a propor uma lei que libera a participação da empresa como minoritária em alguns projetos, o que tende a facilitar futuros investimentos.
A Copel e o Paraná perdem um gestor moderno, preocupado em dar agilidade e eficiência à empresa pública. Morto nas proximidades da Represa do Capivari que capta água para a hidrelétrica Pedro Viriato Parigot de Souza, batizada em homenagem a um dos mais importantes presidentes que a estatal já teve , Ravedutti levou a Copel a uma posição mais alta do que ela ocupava até pouco tempo atrás.
Fernando Jasper, editor-assistente de Economia
Empresa pode ser minoritária
A Assembleia Legislativa aprovou ontem o projeto do governo que altera os critérios para a participação privada no setor elétrico e permite à Copel participar de empreendimentos como sócia minoritária. A lei anterior só autorizava a participação majoritária. O projeto, porém, impede a venda de participação nos consórcios de que a empresa já faz parte.
A alteração na Lei 316/10 foi aprovada em terceira votação no painel do plenário por 28 votos contra 9, depois de ter sido objeto de discussões entre a bancada governista e deputados do PT.
Durante a sessão, o deputado Péricles de Mello (PT) tentou adiar a votação e fez críticas ao projeto. "Não é admissível que o governo aprove uma lei que abre caminho para a privatização da empresa", afirmou.
Tadeu Veneri, também da bancada petista, afirmou que lei fere a Constituição Estadual. "A lei não contempla a necessidade de aprovação da Assembleia nos casos de alteração societária das estatais. Acho que teremos uma ação direta de inconstitucionalidade na sequência", avisou o deputado.
Para o líder do governo na Assembleia, Caíto Quintana (PMDB), a aprovação da lei aumenta a capacidade de expansão da empresa. "A alteração se refere a empreendimentos novos. A empresa não perde nada e não há risco de privatização", disse.
Sandro Moser
A Companhia Paranaense de Energia (Copel) perdeu ontem seu presidente. Um economista com quase 40 anos de casa que, em menos de sete meses à frente da estatal, conseguiu recolocá-la em posição de destaque no cenário energético nacional, disputando sem medo concessões de usinas e sistemas de transmissão em lugares bem distantes de sua sede. Ronald Thadeu Ravedutti morreu na manhã de ontem, aos 59 anos, vítima de acidente de carro na BR-116, em Campina Grande do Sul (região metropolitana de Curitiba).
O governador Orlando Pessuti decretou luto oficial de três dias. "[Ravedutti] sempre foi um dos meus principais articuladores na coordenação política e sempre foi uma pessoa muito próxima. O Brasil perde uma das lideranças do setor energético", afirmou o governador, na agência de notícias do governo.
O velório de Ravedutti foi realizado ontem à noite no Palácio das Araucárias, em Curitiba. Em seguida, o corpo seguiria para Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro), cidade natal de Ravedutti. Na manhã de hoje, o corpo será velado na Câmara Municipal da cidade, e o enterro está marcado para 11 horas, no cemitério São João Batista. Ravedutti nasceu em 5 de dezembro de 1950. Deixa a mulher, Tânia Mara Cestari Ravedutti, e três filhos, Gustavo, Fernanda e Giovanna.
Pessuti garantiu que os planos de expansão da companhia continuam em pé. Antes da mudança de governo, em janeiro, a Copel deve disputar duas licitações, uma de sistemas de transmissão e outra de hidrelétricas duas usinas em Mato Grosso, que estão no alvo da empresa, devem exigir investimentos de R$ 4,9 bilhões. Ravedutti vinha afirmando que a empresa participaria dessas disputas com o mesmo arrojo demonstrado nos leilões anteriores.
Quem assume a presidência, temporariamente, é o diretor de geração e transmissão de energia e de telecomunicações, Raul Munhoz Neto. Funcionário de carreira, ele fica na posição até que o Conselho de Administração se reúna para deliberar a respeito da sucessão, no próximo dia 2.
Carreira
Formado em Ciências Econômicas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná (Fesp), Ravedutti ingressou na Copel em 1971. Sempre atuando na área financeira, passou pelos cargos de assessor da diretoria econômica-financeira (1982), gerente da divisão de empréstimo e financiamento (1982 a 1987), gerente de estudos e projetos para captação de recursos (1987 a 1992), e assistente da diretoria econômico-financeira (1993), até ocupar o cargo de diretor econômico-financeiro em 1994.
"Quando o Requião [governador na época] pediu a substituição do diretor de finanças, eu propus o nome do Ronald. Tenho muito orgulho disso, pois além de grande amigo, era um profissional competente e inteligente", destacou João Carlos Cascaes, que presidiu a companhia entre 1993 e 1994.
Posteriormente, Ravedutti assumiu o cargo de diretor de finanças em 2003 e 2004. Passou em seguida à diretoria de gestão corporativa, onde ficou até 2005, quando tornou-se diretor de distribuição. Tomou posse como presidente da Copel em 27 de abril deste ano, por indicação de Pessuti.
"Era um excelente profissional e bastante dedicado. Tinha um zelo enorme pela empresa. Foi, inclusive, um adversário ferrenho da privatização", disse o engenheiro Ivo Pugnaloni, ex-diretor de distribuição e planejamento da Copel.
Expansão
Sob o comando de Ravedutti, a companhia arrematou em junho a concessão de um sistema de transmissão em São Paulo, num empreendimento de R$ 270 milhões. Em julho, foi a vez da usina de Colíder, no Rio Teles Pires, em Mato Grosso, que receberá cerca de R$ 1,5 bilhão.
"A atuação dele mudou a face da Copel. O Ronald proporcionou que a empresa voltasse ao mercado. Voltou a investir e estava brigando por uma lei que permite a parceria com empresas privadas, claro, mantendo o controle do estado. Essa estratégia é fundamental na busca de investimento e na participação de concessões com mais força", destacou o ex-diretor da Copel Luiz Fernando Leone Vianna, presidente do conselho de administração da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine).
Em encontro com deputados federais paranaenses na segunda-feira, Ravedutti ratificou que o plano de expansão iria continuar até o dia 31 de dezembro. No encontro, também pediu o apoio dos parlamentares para assuntos como a renovação das concessões de usinas, instalações de transmissão e das distribuidoras de energia inclusive a da Copel Distribuidora, que expira em 2015 e o fim das restrições de crédito a empresas estatais.
Acidente
O acidente que vitimou Ravedutti ocorreu em uma curva no km 38 da BR-116, perto da Represa do Capivari. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o carro rodou na pista, que estava molhada, e capotou. O executivo acabou sendo lançado para fora do veículo pelo vidro traseiro. Também estavam no carro o motorista Sebastião Marcos da Silva e o fotógrafo Antonio Carlos Borba. Eles tiveram ferimentos leves.
Ravedutti retornava de São Paulo, onde, na terça-feira, participou do Seminário Nacional de Distribuição e acompanhou o Rodeio Nacional de Eletricistas evento que premiou com dois primeiros lugares as equipes de eletricistas da companhia.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast