São Paulo - A reação dos mercados ao rebaixamento do rating da dívida dos Estados Unidos pela Standard & Poor's, anunciado na noite de sexta-feira, será negativa ao menos em um primeiro momento, mas há fatores que podem atenuar o pânico dos mercados, inclusive no Brasil. A avaliação é do economista Antonio Madeira, sócio da MCM Consultores Associados. "Só vamos saber o impacto mesmo quando os mercados abrirem e as autoridades começarem a se manifestar", disse.
Madeira avalia que, para a economia nacional, a decisão da S&P deve levar a um pequeno aumento no risco Brasil, à depreciação do real e a alterações no comércio de commodities. De acordo com o economista, o rebaixamento do rating norte-americano pressiona o dólar por uma alta. Caberia, então, ao Banco Central (BC) brasileiro monitorar as condições de liquidez. "É normal que nesses momentos de nervosismo o dólar se aprecie", diz, ao destacar que pode haver um movimento de encurtamento de prazos das operações. "O BC tem uma posição ativa no mercado de dólar futuro com swap reverso de cerca de US$ 10 bilhões, sem contar todo o estoque de reservas. A autoridade monetária não vai agir para conter a alta do dólar, mas pode vender para dar liquidez ao mercado", afirma.
"Arsenal reforçado"
Além da interferência no câmbio, o governo brasileiro, na avaliação de Madeira, tem experiência e "um arsenal bem reforçado" de medidas para acalmar o mercado daqui para a frente, que inclui política fiscal e monetária. A equipe econômica da presidente Dilma Rousseff pode, por exemplo, fazer alterações no depósito compulsório e na taxa básica de juros (Selic) e também reduzir a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o crédito. Poderia, assim, estimular a demanda interna em um cenário externo de difícil recuperação econômica. "São instrumentos de política econômica que tendem a ser eficazes", afirma.
Com relação à indústria nacional, o economista prevê reforço da presença de produtos importados, uma vez que os exportadores mundiais buscarão novos mercados para suprir o enfraquecimento da demanda global por seus produtos. Ao mesmo tempo, o Brasil pode continuar atraindo investimentos. "Com a entrada efetiva da produção do pré-sal, mais a importância da agroindústria na economia brasileira, somados a um mercado doméstico robusto, o Brasil deve atrair investimentos", explica.