Diante da inflação pressionada, o governo decidiu escolher o momento mais oportuno para o reajuste dos combustíveis, concentrando-o em fevereiro. É que no mês o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial, deve ceder à metade da taxa prevista para janeiro graças à redução da tarifa de energia e de altas mais moderadas de alimentos, dizem especialistas. Um sinal foi dar a autorização à Petrobras para o aumento em 30 de janeiro, quando a coleta de preços do IPCA do mês já estava encerrada.
Segundo Elson Teles, analista do Itaú, o governo definiu o reajuste após a queda da energia elétrica e "parece" ter optado pela data para "não entrar nada" no índice de janeiro.
"O impacto [de queda da inflação] do desconto nas contas de luz será bem superior ao do reajuste da gasolina", diz.Consultorias, bancos e entidades do setor de combustíveis estimam uma alta de 4% a 5,3% nos preços da gasolina nos postos.
O aumento nas refinarias da Petrobras foi de 6,6% para a gasolina pura, mas por causa da mistura de 20% do álcool (que é mais barato) o reajuste é diluído.
Já o recuo de 18% nas contas de energia vai gerar um alívio de 0,65 ponto percentual -ou seja, mais do que o triplo do que a gasolina pode turbinar a inflação.
"O impacto da queda da energia elétrica equivale a mais do que o impacto previsto para os reajustes de gasolina e do aumento das mensalidades escolares [item com grande peso no IPCA de fevereiro] juntos, embora possam ocorrer em momentos distintos", diz Etore Sanchez, economista da LCA.
Apesar da alta da gasolina, a LCA projeta 0,43% para a inflação de fevereiro graças à redução da energia e altas mais moderadas de alimentos. Para janeiro, a previsão é de 0,83%.
Com a manobra, o governo tentou não gerar expectativas negativas quanto à inflação deste ano, o que pode realimentar reajustes de preços.
Thaís Zara, da Rosemberg e Associados, diz a inflação voltou "à pauta das principais preocupações do governo", ao se manter "há muito tempo acima do centro da meta do governo" - de 4,5%. Ela prevê 5,8% em 2013.
Outro problema é que em janeiro um número muito grande de produtos registraram com aumento de preços, superior à média dos meses anteriores.
A economista também vê uma "operação casada" do governo para reduzir a energia e aumentar os combustíveis.
Desse modo, diz, minimizou os problemas de caixa da Petrobras e deu um sinal positivo aos investidores, antes da divulgação de resultados mais fracos em 2012.
A companhia divulga seu balanço na próxima segunda-feira (4).
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