No segundo semestre de 2015, os rebaixamentos de empresas brasileiras devem superar as elevações de rating em mais de cinco vezes, segundo a Fitch Ratings. A expectativa confirma a tendência observada no primeiro semestre do ano, quando 19 emissores tiveram suas classificações rebaixadas, destaca a agência. “As empresas brasileiras permanecem vulneráveis: aproximadamente uma em cada quatro companhias do País está com o rating em perspectiva negativa”, afirma, em nota, o diretor sênior da Fitch, Ricardo Carvalho.
As companhias brasileiras devem reportar volumes de dívida estáveis em 2015, diz a agência, que atualizou o relatório “Perspectivas para Empresas Brasileiras”. As companhias vêm cortando investimentos e reduzindo atividades de fusões e aquisições, em resposta ao crítico cenário econômico, ressalta a Fitch. A mediana da queima dos fluxos de caixa representou apenas 1% das receitas em 2014. Este foi o menor índice registrado pelas companhias do País desde 2010, diz a agência.
De acordo com a Fitch, fluxos de caixa operacionais mais fracos resultarão no aumento dos indicadores de alavancagem. A agência estima que os fluxos de caixa operacionais das empresas declinarão pelo quinto ano consecutivo, à medida que a inflação alta, as taxas de juros elevadas e o aumento das taxas de desemprego reprimam o consumo e a atividade econômica.
O escândalo da Operação Lava Jato e as subsequentes investigações das denúncias de corrupção no País frearam o apetite dos investidores pela dívida corporativa brasileira. “Apenas a Votorantim Cimentos, a Embraer, a Oi e a própria Petrobras emitiram dívida no mercado internacional. A Ceagro, a Vale, a Petrobras, a Oi, a Sifco, a JBS, a Sabesp e a Marfrig possuem dívidas com vencimento em 2016. Ceagro e Sifco ficaram inadimplentes no pagamento de juros referente a essas obrigações.”
A agência salienta ainda que a desvalorização do real perante o dólar desde o começo de 2015, para R$ 3,40, de R$ 2,62, não fortaleceu significativamente a competitividade dos exportadores brasileiros. “Muitas empresas priorizaram o mercado doméstico e enfrentam a ameaça das importações e da dependência de medidas de proteção do governo.” A Fitch estima que o real teria de registrar queda ainda maior frente ao dólar, com a moeda americana sendo cotada acima de R$ 3,75, para que mais exportadores se tornem globalmente competitivos.
Além disso, o risco cambial é alto para companhias que emitiram dívida no exterior. “A maioria dos emissores não utilizou instrumentos derivativos para eliminar totalmente o risco cambial, já que a taxa de juros Selic atingiu 14,25%, o que torna o uso de hedge caro. Em geral, o hedge é usado para cobrir 12 meses de custos de produção denominados em dólar, bem como 12 meses de serviço da dívida em dólar.” A Fitch afirma acreditar que o porcentual da dívida em moeda estrangeira aumentará no mix, à medida que o BNDES direcione o crédito a projetos de infraestrutura.
“A Marfrig, a USJ e a Gol permanecem como únicas empresas com ratings B+ ou abaixo que possuem notas em circulação no mercado, após a inadimplência de inúmeros emissores dos setores de construção e de açúcar e etanol”, diz a Fitch. A estrutura de capital da Marfrig deve melhorar significativamente, com a decisão da empresa, anunciada em junho, de vender os negócios da Moy Park à JBS por US$ 1,5 bilhão, destaca. Dos 39 emissores classificados na categoria de rating BB, 12 estão em perspectiva negativa, lembra a agência.