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CENÁRIO

Recessão afeta saúde financeira das empresas

Falta de pagamento deixou a obra da ligação para o aeroporto em Curitiba mais lenta e colocou em risco saúde financeira de construtoras. | Antônio More/Gazeta do Povo
Falta de pagamento deixou a obra da ligação para o aeroporto em Curitiba mais lenta e colocou em risco saúde financeira de construtoras. (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

A crise econômica, intensificada pelas medidas do ajuste fiscal, realismo tarifário e efeitos da Lava Jato, bateu em cheio na saúde financeira das empresas. Indicadores de inadimplência de pessoas jurídicas e pedidos de recuperação judicial estão em alta, somando-se a outros sinais das dificuldades financeiras das empresas, como o desemprego em alta.

Dados da Boa Vista SCPC mostram que a inadimplência das pessoas jurídicas cresceu 5,7% considerando os valores acumulados nos últimos quatro trimestres. Ao mesmo tempo, os pedidos de recuperação judicial de empresas aumentaram 4,2% em março, no acumulado dos últimos 12 meses.

Carlos Tortelli, sócio da Consult, afirma que o aumento da inadimplência vem principalmente da restrição ao crédito. “Primeiro, o custo se elevou. Segundo, os agentes financeiros passaram a ter um cuidado muito maior nas suas análises de risco. A busca ao crédito se tornou muito mais difícil e cara. A inadimplência é a antessala da recuperação judicial. Quem está inadimplente provavelmente vai chegar à recuperação”, afirma.

Um bom exemplo do crédito mais caro é o recente aumento da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que serve de referência para empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao setor produtivo. Em abril, a TJLP subiu de 5,5% para 6% ao ano. Foi a segunda alta consecutiva. Com isso, a taxa avança para o maior patamar desde 2009, quando atingiu 6,25%.

“O custo financeiro é muito considerável no caixa das empresas. Outro agravante é a recessão da economia. A receita não vem e o custo do crédito aumenta a despesa. Essa combinação é muito ruim para a inadimplência das empresas. É uma combinação fatal”, afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

O spread bancário (diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar o dinheiro e os juros cobrados para emprestá-lo) também ficou maior no início do ano. Em fevereiro, segundo o Banco Central, o spread médio para pessoas jurídicas alcançou 9,2 pontos porcentuais, mais alto índice desde maio de 2012. Em março, o spread ficou em 9 pontos porcentuais.

Risco alto

Na análise da Boa Vista SCPC, o indicador de inadimplência leva em conta cheques devolvidos, títulos protestados e registros de débitos vencidos e não pagos. O órgão avalia que após dois anos de relativa estabilidade, o calote das empresas enfrenta um novo período de aceleração, que deve continuar durante todo o ano.

“Não temos expectativa que este ano mude, o crédito deve continuar difícil e caro. O cenário é bem desafiador. A economia vem há algum tempo crescendo menos e agora prevemos que serão mais dois anos ruins”, avalia Flavio Calife, economista da Boa Vista.

José Luiz Amaral Machado, conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) afirma que as palavras de ordem para o empresário este ano são saúde financeira e planejamento. “Vamos ser obrigados a cuidar melhor da liquidez, ser mais seletivos nas operações, cuidar com o crédito. Tem que ter habilidade e fôlego para encarar 2015”, diz.

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