O comércio varejista brasileiro teve o pior ano da sua história em 2016. O setor bateu recordes de fechamento de lojas, de demissões e de queda nas vendas. Entre aberturas e fechamentos, 108,7 mil lojas formais encerraram as atividades no país no ano passado e 182 mil trabalhadores foram demitidos, descontadas as admissões do período, revela um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O ano superou os resultados negativos de 2015 tanto na quantidade de lojas desativadas como em vagas fechadas. Em dois anos, o comércio encolheu em mais de 200 mil lojas e quase 360 mil empregos diretos.
“Foram três recordes negativos em 2016”, ressalta Fabio Bentes, economista da CNC e responsável pelo estudo, feito a partir de dados das empresas informantes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O tombo nas vendas até novembro, o último dado disponível do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, foi de 8,8% no ano e de 9,1% em 12 meses para o comércio ampliado, que inclui veículos e materiais de construção (o IBGE divulga os números finais do varejo brasileiro nesta terça, 14).
Como o Natal, a principal data para o varejo, foi fraco, a chance de se ter atingido no fechamento do ano um resultado menos pior que obtido até agora é pequena.
Bentes observa que, dos três recordes negativos, o mais dramático e preocupante, na sua opinião, é o de fechamento de lojas. “O comerciante só fecha loja quando está desesperançoso com a situação e não volta abrir tão cedo.”
O estudo da CNC mostra que de dez segmentos do varejo analisados, todos fecharam mais lojas do que abriram no ano passado. Depois dos hipermercados e supermercados, as lojas de artigos de vestuário e calçados foram as que mais sofreram com a crise. Em 2016, 20,5 mil fecharam as portas no País, descontadas as inaugurações. A Lojas Marisa, por exemplo, fechou cinco lojas em 2016 e abriu uma. A direção da rede, que tem hoje quase 400 lojas, diz que avalia neste ano se vale a pena manter a operação de 20 pontos de venda.
Setores movidos a crédito, como revendas de automóveis, móveis e eletrônicos diminuíram o número de pontos de vendas. A Via Varejo, dona da Casas Bahia e do Ponto Frio, por exemplo, fechou 23 lojas de janeiro de 2015 a setembro de 2016.
2017
Para Bentes, da CNC, o varejo em 2016 bateu no fundo do poço e dificilmente neste ano vai repetir números tão negativos. A tendência para 2017 é de estabilização dos números de lojas, empregados e faturamento, diz ele, ponderando que o primeiro semestre não será fácil. “Saímos de um furacão para uma tempestade tropical”, compara. Desaceleração da inflação e queda dos juros jogam a favor do consumo, aponta.
Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, concorda com Bentes, mas ressalta que o desafio para o varejo voltar a crescer é a retomada do emprego.
De toda forma, apesar do resultado ruim dos últimos dois anos - distante de 2010, quando o varejo cresceu 11,3%, gerou mais de meio milhão de vagas e abriu 82 mil lojas -, Terra acredita que esse enxugamento será positivo no médio prazo. As empresas que continuarem operando, porém com uma estrutura menor, voltarão a apresentar melhores resultados.
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