O Brasil terá uma recessão mais profunda e longa do que se esperava de acordo com Shelly Shetty, chefe de ratings soberanos para a América Latina da agência de classificação de risco Fitch. A afirmação foi feita durante teleconferência para explicar as razões que levaram a agência a rebaixar a nota de crédito do Brasil de BBB para BBB-, último degrau antes de perder o chamado “grau de investimento”, selo de bom pagador. Segundo ela, a economia brasileira vai se retrair 3% este ano e mais 1% em 2016.
“Nossa previsão é de uma retração de 3% para a economia este ano e mais 1% em 2016, com alguma recuperação em 2017. Neste momento é razoável ser cauteloso em relação ao Brasil. O desempenho econômico piorou muito desde abril”, disse Shetty, observando que naquele mês a agência colocou o viès negativo para o país, ainda mantendo a nota BBB.
Segundo ela, o momento econômico é difícil, com maior endividamento público e incerteza política. Ela acredita que o país terá dificuldades para alcançar as metas fiscais este ano e em 2016. Shetty não citou números, mas a Fitch vem trabalhando com a expectativa de um déficit fiscal de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. A Fitch estima que o endividamento do país chegue a 70% do PIB em 2016, avançando ainda em 2017. Segundo ela, as contas do país só começam a se reequilibrar em 2016 e o superávit só aconteceria em 2017. A meta do governo para este ano é de um superávit primário de 0,15% do PIB, embora o mercado já admita a possibilidade de uma revisão deste número, diante da queda de arrecadação do governo.
A analista da Fitch explicou que a deterioração da economia brasileira, num ritmo mais forte do que se esperava, a crise política e as dificuldades do governo de aprovar medidas de seu interesse no Congresso pesaram na decisão de rebaixamento da nota brasileira. Também entrou nesta conta a possibilidade de um impeachment da presidente Dilma Rousseff, embora a agência não considere este cenário base, além das investigações de desvios de recursos da Petrobras.
“O ambiente político prejudica as perspectivas macroeconômicas, mas mesmo assim as autoridades brasileiras se esforçaram para fazer um ajuste monetário”, disse Shetty.
O rebaixamento da nota brasileira para BBB- colocou o país ao lado de países como a Rússia, Turquia e Indonésia. Entre eles, apenas o Brasil e a Rússia apresentam perspectiva negativa, o que significa que há mais de 50% de chances de um novo rebaixamento entre 12 e 18 meses. “Mas isso pode acontecer antes, se houver necessidade”, afirmou.
Como ponto positivo do país, Shetty citou o elevado nível das reservas internacionais (cerca de US$ 370 bilhões), que permite a absorção de choques externos, além do regime de câmbio flexível. Ela citou também a diversificada economia do país, o grande mercado consumidor interno e o sistema bancário adequadamente capitalizado como pontos favoráveis ao Brasil.
Perguntada sobre uma possível saída do ministro da Fazenda Joaquim Levy, Shelly Shetty disse que se isso acontecer a agência vai reavaliar a política econômica que o país adotará. Ela disse que Levy tem credibilidade já que iniciou o processo de ajuste fiscal do Brasil.
“Se esse cenário de saída do ministro Levy se confirmar, então vamos observar qual seria o novo ambiente de políticas, qual orientação seria seguida”, disse ela, observando que a saída de Levy poderia impactar negativamente o rating brasileiro.