A preocupação com o volume de resíduos gerados diariamente pelo consumo dos mais variados produtos não é exclusividade dos consumidores mais conscientes. Cada vez mais, gigantes da indústria buscam alternativas não somente para tornar sustentáveis seus processos internos, mas para impactar todo o ciclo de vida dos seus produtos.
Ter essas respostas possibilitou à Boomera, empresa paulista especializada em soluções para resíduos considerados difíceis de reciclar (como embalagens de biscoitos e cápsulas de café, que misturam dois ou mais tipos de plástico) saltar de um faturamento de R$ 6 milhões em 2016 para 40 milhões no último ano. Para 2019, a perspectiva é que este número fique entre R$ 60 e R$ 70 milhões.
“Conseguimos crescer mesmo em um período de crise no Brasil. O mundo entendeu que a questão do lixo é um problema gravíssimo, e nós ajudamos as empresas entregando soluções de forma clara e organizada”, aponta Guilherme Brammer, sócio-fundador da empresa, que tem entre seus clientes nomes de peso como Natura, Adidas, P&G e Nestlé, para citar alguns.
O desenvolvimento de uma metodologia própria, batizada de CircularPack, foi um dos pontos que favoreceu o crescimento em escala. Composta por seis passos, ela parte do engajamento e sensibilização das áreas, passa pela avaliação técnica para compreender a melhor forma de recuperar os resíduos, pela pesquisa e desenvolvimento de novos materiais a partir deles, pela elaboração de sistemas de logística reversa, ideação e prototipagem de produtos até chegar a um novo ciclo deles na indústria e/ou mercado.
“A elaboração do pacote de jornada com seis passos facilitou muito [o trabalho], pois temos clientes que já estão em algum deles e outros que estão começando, que querem entrar na economia circular, mas não sabem por onde”, explica Guilherme.
“Ciência com consciência” para fazer diferente
O foco na cadeia como um todo, e não apenas no resíduo em si, foi outro dos pontos que estimularam o avanço do negócio. Quando foi fundada em 2011, a atuação da Boomera estava concentrada na pesquisa e desenvolvimento de novos materiais gerados a partir dos resíduos complexos sólidos. Mas não demorou para que Guilherme notasse a necessidade de ajudar os clientes a organizar o sistema de logística reversa, estruturando pontos de coleta e trabalhando com cooperativas de catadores, que recebem equipamentos e treinamento para fazer a gestão dos resíduos. Hoje, mais de 200 cooperativas e de seis mil catadores estão envolvidos no processo em todo o país. A empresa também conta com cem pontos de entrega voluntária de resíduos distribuídos em lojas do grupo Pão de Açúcar, e planeja implementar mais 200 por meio de novas parcerias.
A ciência por trás de todo o processo, por sua vez, conta com um pé na fábrica e o outro dividido entre a academia e a indústria. Isso porque a Boomera mantém um laboratório próprio instalado dentro do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul (SP), e tem parcerias com gigantes do setor, como a Dow Química.
“A inovação não acontece sozinha. Nós somos o catalisador em um processo de inovação colaborativa, aberta, que pega o melhor de cada elo da cadeia e coloca para circular”, resume Guilherme.
Dele, já resultaram produtos como cones feitos a partir de resíduos retirados de águas do Rio de Janeiro para a Adidas, porta-cápsulas de café feito a partir da resina reciclada de cápsulas utilizadas da Dolce Gusto, e cadeiras desenvolvidas pelo designer Marcelo Rosenbaum e O Fetiche produzidas com resíduos eletrônicos e comercializadas na loja da Oppa, por exemplo.
Pensar grande para crescer
Tudo isso foi possível pelo foco da Boomera no ganho de escala e pelo fato de ela estar aberta às oportunidades. A primeira delas aconteceu há cerca de dois anos, quando a empresa foi acelerada pela Quintessa, como lembra o sócio-fundador. “Estava chegando em um ponto em que ou apostava em um modelo de crescimento ou iria focar eternamente na consultoria. Eles me ajudaram a repensar o modelo e olhar para o caminho da industrialização”, conta Guilherme. Logo depois, a Boomera foi convidada para participar de outro programa de aceleração, pela Endeavor, que a colocou definitivamente na trilha da indústria.
Neste período, a empresa, que antes trabalhava com terceiros ou com arrendamento de áreas em plantas ociosas, adquiriu sua primeira fábrica, em Cambé, no interior do Paraná. Junto com ela, veio uma área destinada à reciclagem e produção de lonas agrícolas feitas a partir de uma tecnologia exclusiva, que utiliza entre 70% e 80% de material reciclado em sua composição.
E não para por aí. A Boomera, que conta com 140 funcionários e 400 clientes ativos, planeja para o final do segundo semestre a inauguração de sua segunda fábrica, em São Paulo, que será focada na produção de resina plástica. Para setembro próximo também está programado o lançamento de uma série de produtos que terão na vida longa e na transparência sobre sua origem alguns de seus destaques. “Ainda não posso falar o que é, mas será algo que irá provocar a questão referente [à poluição] por plástico nos oceanos”, adianta Guilherme.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast