Seis anos após o início da crise, a economia americana parece estar "de volta ao jogo", com crescimento consistente do PIB e o desemprego em queda. A recuperação levou o Federal Reserve (Fed), banco central americano, a anunciar neste mês a retirada total dos estímulos monetários até outubro, causando apreensão nos mercados financeiros, sobretudo, dos países emergentes, como o Brasil.
O fim dos estímulos que somam cerca de US$ 4 trilhões desde 2008 terá impacto distinto nas economias emergentes. No Brasil, o efeito será ambíguo. De um lado, a recuperação da economia americana, um dos maiores mercados consumidores do mundo, significa o retorno de um grande parceiro comercial que vai alavancar as exportações brasileiras, sobretudo, de commodities. Do outro, porém, os juros americanos devem subir e fortalecer o dólar, pressionando a inflação brasileira que já beira o teto da meta e reduzindo os investimentos estrangeiros.
"O problema brasileiro é que estamos acumulando um déficit recorde em transações correntes e equilibrando isso com a entrada de capital estrangeiro. Com a alta dos juros nos EUA, teremos dificuldades para continuar atraindo esses investimentos", avalia o professor do Departamento de Economia da UFPR, Marcelo Curado. Nos últimos 12 meses até maio, o déficit nas contas externas chegou US$ 81,854 bilhões, o equivalente a 3,61% do PIB brasileiro.
Para o professor de Economia do Ibmec de Minas Gerais, Felipe Leroy, o fluxo de capitais internacionais especulativos é usado para girar o mercado financeiro doméstico, portanto, qualquer retração desse capital vai afetar a economia brasileira. "A única forma de tentar segurar esse capital aqui é aumentando a taxa de juros, mas é um momento delicado porque temos um cenário de crescimento muito baixo", avalia.
Alta nos preços
A grande preocupação para o Brasil deve ser mesmo a inflação. Na avaliação de Lucas Dezordi, chefe do departamento de Economia da Universidade Positivo, a redução dos estímulos monetários vai exigir do governo brasileiro uma preocupação maior com o controle dos preços e com o superávit primário. "O próximo governo terá de fazer um ajuste fiscal para chegar a um superávit de 3,5% do PIB, o que é perfeitamente possível, e não 1,3% como ocorre hoje", afirma.
Lição pela metade
Brasil não soube aproveitar o aumento da liquidez
Embora a recuperação americana traga a expectativa imediata de aumento das exportações brasileiras para os Estados Unidos, também deve provocar, no médio e longo prazo, a queda no ritmo dos investimentos estrangeiros no país, agravando a situação do déficit brasileiro nas contas correntes, que já não é boa.
Para o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcelo Curado, ao insistir na política de estímulo à demanda, mesmo com o crescimento acelerado da economia em 2010, o Brasil perdeu a oportunidade de aproveitar o aumento da liquidez para criar políticas de melhoria das condições de oferta, com investimentos em projetos estruturantes para o país. "Poderíamos ter aproveitado o momento para dar um salto de competitividade", avalia Curado.
Ritmo lento
Segundo ele, o ritmo de crescimento no Brasil deve continuar baixo em 2014 e 2015. Porém, ao menos sem um cenário de crise, já que o aumento dos juros americanos deve ser escalonado ao longo dos próximos anos, como sinalizou o banco central americano, o Fed.