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Conjuntura

Recuperação judicial no agronegócio dispara com custo maior, preço menor e clima

Recuperação judicial no agronegócio
Aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio é motivado pela combinação de preços baixos, custos elevados e problemas climáticos. (Foto: Ilustração: Vandré Kramer/Gazeta do Povo com DALL-E)

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A combinação de preços mais baixos das commodities, custos elevados de produção, problemas climáticos e altas taxas de juros tem causado um aumento nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio.

Segundo a Serasa Experian, 426 produtores rurais atuantes como pessoa física solicitaram a medida nos primeiros nove meses de 2024, mais de cinco vezes o total registrado no mesmo período de 2023.

A situação não foi muito melhor para produtores rurais que operam como pessoa jurídica. No período de janeiro a setembro, os pedidos de recuperação judicial dessa categoria quase triplicaram: saltaram de 102 em 2023 para 299 em 2024.

Entre empresas de insumos, agroindústria e agrosserviços, a quantidade de recuperações judiciais foi de 227, com alta de 36,8% em relação a igual intervalo de 2023.

No mesmo período, o país teve – no conjunto de todos os setores econômicos – um total de 1.899 pedidos de recuperação judicial, um crescimento de 73,5% em relação ao ano anterior.

Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, explica que o setor é naturalmente cíclico, alternando entre períodos de expansão e retração. "O que vemos agora é o reflexo de uma combinação de fatores que afetaram especialmente os produtores e empresas já fragilizados financeiramente", afirma.

Recuperação judicial no agronegócio tem pedidos bilionários

Eduardo Bazani, sócio-diretor da Nordex Consultoria Empresarial, destaca que, embora os preços das commodities tenham caído, a redução nos custos de insumos, como fertilizantes, foi mais limitada, agravando a pressão financeira sobre os produtores.

Entre as empresas do agronegócio que recorreram à recuperação judicial, destaca-se a AgroGalaxy, sediada em Goiânia e que atua no segmento de varejo de insumos agrícolas, com dívidas de R$ 3,7 bilhões com instituições financeiras, produtores rurais e fornecedores. O pedido foi feito em setembro.

Outras grandes companhias na mesma situação incluem o Grupo Patense (R$ 2,2 bilhões), em Minas Gerais; a Sperafico Agroindustrial (R$ 1,1 bilhão), no Paraná; a Usina Maringá (R$ 1 bilhão), em São Paulo; e a Elisa Agro Sustentável (R$ 679,6 milhões), em Goiás.

Mato Grosso: grandes oportunidades, mas com pedidos de recuperação em alta

Mato Grosso, maior produtor agrícola do Brasil, enfrenta um cenário misto, com desafios e grandes oportunidades. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), projeções indicam crescimento expressivo nas áreas de cultivo de algodão (40,62%), milho (60,2%) e soja (33,2%) nos próximos dez anos.

Por outro lado, o Mato Grosso ocupa o sexto lugar no ranking de estados com maior proporção de empresas em recuperação judicial, com 3,2 casos por grupo de mil, superando a média nacional de 1,9, segundo a RGF Associados, consultoria especializada em reestruturação empresarial.

Quatro atividades diretamente ligadas ao agronegócio – cultivo de soja, criação de bovinos, fabricação de alimentos para animais e comércio atacadista de insumos agrícolas – estão entre os dez segmentos com maior proporção de empresas em recuperação judicial.

Além disso, dois outros setores estreitamente ligados ao agronegócio também figuram nessa lista: transportadoras rodoviárias de carga, tanto as que operam em âmbito internacional, interestadual e intermunicipal quanto as de atuação exclusivamente municipal.

Outro reflexo das dificuldades financeiras "para dentro da porteira" é o aumento na oferta de fazendas para venda. Um levantamento da agrotech Chãozão, especializada na comercialização de propriedades rurais, aponta que em municípios como Cocalinho, Primavera do Leste e Paranatinga, até 30% do território está disponível para negociação.

Renata Apolinário, diretora operacional da Chãozão, atribui o fenômeno a mudanças no mercado de terras, questões relacionadas à sucessão familiar e às dificuldades financeiras enfrentadas por muitos produtores.

Rostyner Pereira Costa, especialista em pecuária, reforça que o cenário de juros altos e instabilidade econômica e política tem afastado investidores do Brasil. "Esse contexto tem intensificado o volume de negociações de terras, à medida que os produtores enfrentam crescente pressão por reestruturação financeira", diz.

Cenário coincide com retração da atividade no agronegócio

Dados do IBGE mostram que o PIB da agropecuária "para dentro da porteira" recuou 2,9% no acumulado de 12 meses até setembro. No mesmo intervalo, a atividade econômica geral do país cresceu 3,1%.

Projeções da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, revelam que o PIB do agronegócio registrou queda de 2,2% na primeira metade de 2024, em relação ao mesmo período de 2023.

Pesquisadores das duas instituições atribuem o desempenho negativo a fatores como a queda nos preços das commodities, um movimento que se intensificou desde 2023, e à redução na produção de produtos essenciais, especialmente soja, milho e cana-de-açúcar, dentro da porteira.

Além disso, a CNA projetou em outubro que o faturamento bruto dos estabelecimentos rurais no Brasil deverá totalizar R$ 1,2 trilhão em 2024, uma redução de 2,2% em comparação a 2023, refletindo as adversidades enfrentadas pelo setor.

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