O futuro do jornalismo, principalmente da mídia impressa, é um dos destaques da 68ª Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que começou na última sexta-feira, no Hotel Renaissance, em São Paulo, e reúne 600 jornalistas, pesquisadores, estudantes, empresários e políticos.
A perda de receita publicitária, a baixa circulação, as recentes demissões de jornalistas e a migração para internet e novas plataformas, como tablets e smartphones, foram temas tratados em diferentes painéis. Na opinião dos debatedores, o jornalismo impresso tradicional, que sobreviveu ao longo de cinco séculos, vai mudar ou morrer.
Para o presidente do grupo Prisa, que edita o jornal espanhol El País, Juan Luis Cebrián, o cenário não é dos melhores. "Para cada dólar aplicado na internet, são dez que vão embora dos jornais. Nós próximos anos, 7 mil jornalistas ficarão sem emprego na Espanha", declarou. Segundo Cebrián, o El País perdeu 60% da receita publicitária nos últimos cinco anos. E a tiragem caiu de 4 milhões, em 2007, para 2,8 milhões em 2012. No início do mês, 150 jornalistas, um terço dos funcionários da empresa, foram demitidos.
Na opinião de Cebrián, é necessário buscar um modelo de negócio rentável, o que até agora, segundo ele, não aconteceu. "Nenhuma das tentativas atuais de migrar para internet obteve sucesso. Mas isso não impede os jornais de continuarem tentando", disse.
Para o professor de Comunicação Social da Universidade do Texas Rosental Calmon Alves, não há definição sobre o futuro dos jornais impressos. "Diferentes modelos devem surgir. O correto? Eu não sei. Ter um canal de comunicação não é mais um privilégio, mas sim a maneira como informamos. Serão necessários dez, vinte anos para acharmos uma alternativa".
Calmon também deixou claro que cobrar não é uma solução viável. Segundo ele, vários jornais americanos, e inclusive brasileiros, tentaram cobrar pelo conteúdo durante os anos de 1990. "Se não prevaleceu é por que não deu certo", taxou. Sobre o The New York Times, que recentemente adotou o modelo intitulado paywall poroso em que o leitor paga pelo volume de notícias acessadas , Calmon também o considera é insustentável. "É uma fórmula inovadora, mas desconfio que eles ganharam mais dinheiro parando um pouco a circulação do que com o dinheiro das assinaturas digitais."