A primeira redução nos preços dos combustíveis desde 2009, anunciada na manhã desta terça pela Petrobras, deve ter efeito benéfico sobre a inflação do ano que vem e reforça a decisão do Banco Central sobre uma possível redução da taxa de juros na reunião deste mês, que acontece na próxima quarta-feira.
Com a mudança nos preços, a expectativa é que o BC possa até ampliar o corte na Selic (taxa de referência no país) – a previsão do mercado é de redução de 0,25 ponto percentual, de 14,25% ao ano para 14% ao ano.
A redução do preço da gasolina demora algum tempo para chegar ao consumidor — e para aparecer nos índices de inflação —, diz Paulo Gomes, estrategista da Azimut Wealth Management. Mas os membros do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central podem se sentir inclinados a antecipar esses efeitos, avalia.
“Não afeta a inflação imediatamente, pois o preço será reajustado sábado e nas refinarias. Então passará para as distribuidoras e pelos postos, mas estes ainda tenderão a vender os estoques antigos pelo custo antigo, mais alto”, diz Gomes. “Porém, o Copom pode resolver se antecipar a esta queda da inflação futura e reduzir os juros não em 0,25 ponto percentual, mas em 0,5 ponto pecentual na reunião de quarta-feira”, completa.
Professor do Ibmec e economista da plataforma de investimentos Órama, Alexandre Espírito Santo projeta redução de 0,25 ponto percentual na próxima reunião e 0,5 ponto percentual em novembro, com recuo de 3 pontos percentuais no ano que vem.
“Ajuda na queda dos juros na semana que vem e abre espaço para um IPCA mais próximo do centro da meta em 2017. Gasolina e diesel são preços importantes, pois afetam frete e transportes”, reforça.
Alberto Ramos, economista do Goldman, Sachs & Co., faz a mesma projeção para a redução da Selic, mas ressalta que a estratégia do Banco Central não deve ser alterada imediatamente, mas sim no ano que vem.
“Provavelmente não [haverá impacto] para a próxima reunião. Mas, se os preços continuarem a cair, pode sim dar mais margem para a Selic cair em 2017”, avalia. “Não vejo isto como uma medida para acelerar o corte da próxima semana para 0,5 ponto percentual.”
Ramos, do Goldman, lembra que o impacto da revisão de preços dependerá de dois fatores: cotação do petróleo no mercado internacional — a referência para o Brasil é o barril do tipo Brent, negociado em Londres — e do câmbio. O fortalecimento do real contra o dólar favorece a redução dos preços, já que a matéria-prima combustível chega mais barata ao país.
“Como a Petrobras vai rever os preços todo o mês, [o preço] vai depender muito da evolução dos preços internacionais e do câmbio”, explica Alberto Ramos “Quanto mais o real subir em relação ao dólar, maior vai ser a transmissão [dos efeitos da redução do preço do combustível] para a inflação domestica e mais rápido o Copom pode cortar juro sem comprometer a integridade do sistema de metas de inflação”, diz.
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