O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, na semana passada, cortar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, levando a Selic a 14% após quatro anos sem alívio. A decisão foi influenciada, basicamente, na confiança de que a inflação deve convergir para o centro da meta de 4,5% entre 2017 e 2018, mas o retrospecto das projeções do BC – e também do mercado – mostra que a taxa de acerto é baixa.
Confira um histórico das previsões do BC que “erraram o alvo”
Desde 2009, as previsões do governo e das instituições privadas para a inflação do ano seguinte foram bem mais otimistas do que a realidade se revelou. Na prática, houveram erros sistemáticos nas projeções, sempre para menos, em comparação ao IPCA registrado no ano posterior. A diferença entre o previsto e a realidade foi desde 0,7 pontos porcentuais, como na análise feita em 2013 para 2014, até 4,6 pontos porcentuais, na projeção de 2014 para o ano seguinte.
Na prática, isso mostra que há sete anos o BC e o mercado têm uma percepção exageradamente positiva sobre a desaceleração dos preços. A dúvida é se o corte de juros feito agora pela gestão de Ilan Goldfajn vai tomar novamente este caminho, que compromete a eficácia do sistema de metas de inflação.
Há pelo menos três teses no mercado. A mais forte vai justamente com a tese de o corte foi conservador demais e que havia espaço para mais. Os analistas que apoiam esta ideia acreditam que o ajuste fiscal do governo já está bem encaminhado e que há pouco risco de as reformas serem frustradas.
“Em vista aos indicadores econômicos vigentes neste momento no Brasil, reforçamos que havia sim espaço para um corte de 0,5 e consideramos o corte de 0,25 modesto, dada a base atual de juros e pouco eficaz em termos macroeconômicos. A cautela do BC tem como base a questão fiscal e um provável conservadorismo em relação à direção da atual inflação”, afirmou o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.
A equipe do Bradesco, chefiada pelo diretor de pesquisas e estudos econômicos, Octavio de Barros, avalia que o BC optou pelo corte menor por querer minimizar o risco de que a inflação fique acima de 4,5% em 2017 e por entender que os riscos para a atividade, de um corte moderado nos juros, são baixos. “Na nossa visão, inclusive, como a política econômica está sendo reorganizada, é muita alta a chance de que a inflação responda efetivamente ao hiato da economia e desacelere de maneira importante no próximo ano”, disse o Bradesco.
No comunicado, o BC demonstrou preocupação principalmente com a inflação de serviços persistente e também com a chance de o ajuste fiscal não se concretizar. Por este motivo, outro grupo de analistas acredita que o Copom acertou ao propor um corte gradual e moderado dos juros.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, não houve surpresas no corte. “O Copom mandou um recado ao governo: vocês estão no caminho certo, mas eu preciso de mais. A dúvida reside sobre a capacidade de efetivamente o governo entregar os ajustes”, afirmou.
Economista da Órama Investimentos e professor do Ibmec, Alexandre Espirito Santo, avalia que a decisão do BC foi acertada. “Esperávamos esse início de ciclo de queda com esses 25 pontos, o que demostra uma cautela adequada por parte do BC, já que a inflação ainda está muito acima da meta. Nossa projeção é que na próxima reunião, de novembro, o comitê já possa ser um pouco mais ousado e promova uma redução maior, de 0,5 [ponto porcentual], e que se estenderá ao longo de 2017”, afirmou.
Uma terceira vertente, menos popular do que as anteriores, é a de que o corte nos juros é prematuro, pouco contribuirá para a expansão da atividade e promoverá uma descida menore e menos duradora da inflação.
Em artigo publicado no jornal Valor Econômico, o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, citou, além das incertezas em torno do ajuste fiscal, o déficit primário acima de 2% do PIB devendo durar até o fim da década. “Assim, parece-me que seria mais apropriado iniciar um longo e expressivo ciclo de afrouxamento monetário apenas quando a inflação estivesse próxima do centro da meta”, escreveu.