A combinação de queda nas vendas do comércio e redução no nível de emprego nos últimos meses fez a Associação Comercial e Industrial de Paranaguá (Aciap) desencadear, no mês passado, uma campanha em defesa da cidade. Em uma carta aberta, apresentada a deputados estaduais, federais e senadores, a entidade fez uma compilação de dados econômicos que tentam demonstrar as causas e os efeitos da crise. No centro da análise está a gestão do Porto de Paranaguá, que para a Aciap teria cometidos erros capazes de afugentar exportadores e que comprometem o desempenho da economia do município.

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Apesar de representar a opinião de uma entidade que segue de perto a operação portuária, a carta aberta precisa ser olhada com cuidado. Primeiro, porque isola o porto de uma conjuntura que não pode ser diretamente influenciada por seus gestores. Não se pode esquecer, por exemplo, que diversos setores reduziram suas operações de comércio internacional por conta da queda nas cotações do dólar e pela retração na demanda interna. Além disso, o documento é permeado por posições políticas que estão em conflito com os rumos seguidos pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) desde 2003, quando assumiu o atual governo do estado.

Segundo a Aciap, o comércio da cidade enfrenta uma crise grave, com queda nas vendas. Isso é comprovado pela retração de 25% no número de consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) no primeiro trimestre de 2006 e pelos depoimentos de comerciantes que viram seus resultados caírem. O varejo também sente os reflexos de uma retração no nível de emprego. Entre abril de 2005 e março deste ano, o número de trabalhadores com carteira assinada caiu mais de 4%, o que significa o fechamento de 1,1 mil vagas. O saldo negativo vai na contramão da média estadual, com alta de 4,7% no quesito emprego.

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"Cerca de 70% da economia da cidade gira em torno no porto. Achamos que a fonte dos problemas está na atual gestão da Appa", diz o presidente da Aciap, Alceu Chaves, que é vereador de Paranaguá pelo PFL. "Há perda de cargas para outros portos e, com o movimento em baixa, o número de horas pagas aos trabalhadores avulsos está caindo", completa. A Aciap separou dados do Órgão Gestor de Mão-de-Obra (OGMO) mostrando que nos quatro primeiros meses de 2006 houve redução na demanda por mão-de-obra no porto, o que levou a um corte de R$ 3,8 milhões nos pagamentos aos trabalhadores. "É dinheiro que deixa de circular na economia", alerta Chaves.

Uma das explicações da Appa para o início de ano com queda no indicador é uma alteração no perfil das cargas, já que o volume total movimentado de janeiro a abril teve um ligeiro aumento, de 8,9 milhões de toneladas para 9,1 milhões. A diferença é que os itens que exigem mais mão-de-obra, estão em queda. As operações com contêineres, mais automatizadas, estão em crescimento – o número de TEUs (unidade que se refere a um contêiner de 20 pés) movimentados em Paranaguá passou de 117 mil, nos quatro primeiros meses de 2005, para 158 mil, em 2006. Boa parte dessa evolução é explicada por procedimentos de transbordo, em que os produtos apenas mudam de navio.

Essas explicações técnicas não dizem nada a Cleverson Martins Soares, que está agora tentando vender o seu peixe, depois de ter perdido o emprego em uma empresa de adubos. Aos 27 anos, com mulher e um filho, e o ensino fundamental completo, Cleverson viu na barraca de peixes que o sogro tem no mercado municipal da cidade sua única saída. Se não tivesse achado lugar com ele, Cleverson provavelmente estaria a quilômetros de Paranaguá. "Muitos dos meus colegas foram para Itajaí. "A exportação foi para Itajaí. Empresas inteiras estão se mudando para lá", diz.

O documento da Aciap confirma a opinião de Cleverson. A migração ocorreu no segmento de soja, pois até abril o embarque de grãos geneticamente modificados era vetado em Paranaguá. Exportadores que precisavam exportar cargas com algum teor de transgenia buscaram outros portos, em especial São Francisco do Sul. Assim, entre 2003 e 2005, os embarques do produto por Paranaguá caíram de 5,7 milhões de toneladas para 5,2 milhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. Em São Francisco, o volume subiu de 800 mil toneladas para 2,4 milhões de toneladas.