A reforma administrativa proposta pelo governo prevê que o presidente da República altere a estrutura do Poder Executivo e até declare extintos alguns órgãos e ministérios sem a necessidade de aval prévio do Congresso Nacional. Se a medida for aprovada, o presidente poderá unilateralmente mexer em ministérios, fundações e autarquias do Executivo sem necessidade de consultar os parlamentares, desde que não haja aumento de despesa. A proposta de reforma foi entregue ao Congresso na quinta-feira (3).
Segundo o Ministério da Economia, "há pouca autonomia na reorganização de cargos e órgãos" e "o processo é complexo e moroso" em caso de necessidades urgentes. O objetivo, segundo a pasta, seria dar maior agilidade na adequação de estruturas e cargos.
Pela proposta, o presidente da República poderá extinguir cargos (efetivos ou comissionados), funções e gratificações, reorganizar autarquias e fundações, transformar cargos (quando vagos) desde que mantida a mesma natureza do vínculo, reorganizar atribuições de cargos do Poder Executivo e extinguir órgãos.
Hoje, o governo precisa do aval do Congresso Nacional para criar reorganizar ou extinguir órgãos e ministérios. Para dar agilidade ao processo, geralmente é editada uma medida provisória, que tem vigência imediata, mas precisa ser votada em até 120 dias.
Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro enxugou o número de ministérios de 29 para 22 no início de sua gestão. No entanto, em meio à falta de articulação política no Congresso, o governo quase viu algumas dessas pastas serem recriadas pelos parlamentares.
Houve ainda uma queda de braço entre governo e Congresso pelo endereço do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência que atua no combate à lavagem de dinheiro. O Coaf era ligado ao Ministério da Fazenda, mas o ex-ministro da Justiça Sergio Moro reivindicava que ficasse sob sua alçada para fortalecer investigações, inclusive as da Lava Jato. O Congresso, porém, devolveu o órgão ao Ministério da Economia, de Paulo Guedes.
Extinção de órgãos sem o aval do Legislativo: quais os riscos envolvidos
Hoje, é a lei que dispõe sobre a quantidade de ministérios, suas atribuições, estrutura básica e principais cargos. É na estrutura básica que são definidas as secretarias, conselhos e outras unidades e repartições ligadas à pasta. Apenas os detalhes da estrutura regimental interna do ministério podem ser regulados via decreto.
"Esse tipo de coisa (extinção de órgãos sem aval do Legislativo) seria desastrosa para a administração pública. Produziria uma instabilidade muito grande e daria espaço para um governante arbitrário tomar decisões perigosas para o Estado e a sociedade brasileira", disse o cientista político e coordenador do mestrado em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Varga (FGV), Cláudio Couto. "Às vezes é um 'bode na sala': aquela coisa que se coloca para chamar a atenção, para que todo mundo reclame dela e que passe o resto."
Para a professora permanente da Escola de Administração de Empresas da FGV/SP Regina Pacheco, o Congresso não vai dar esse poder ao presidente. "Não acho razoável, inclusive."
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