Em meio às discussões sobre a reforma da Previdência, o número de pedidos de aposentadoria aumentou em todo o país. De janeiro a agosto deste ano, o número de solicitações no INSS em todo o país cresceu 7,9% frente o registrado no mesmo período de 2015, chegando a 1,710 milhão.
No Paraná, foram 81,7 mil pedidos de aposentadoria no primeiro semestre, com alta de 14,7% sobre igual período do ano passado. Em Curitiba, a procura cresceu 12,7%, para 24,1 mil.
Entre os motivos para o crescimento na procura, estão o debate sobre mudanças nas regras de aposentadoria, a criação da regra 85/95 – que levou muita gente a antecipar o pedido – e a greve dos servidores do INSS, que “represou” atendimentos entre julho e setembro de 2015.
A alta procura tem inclusive congestionado agências do INSS na capital. Conforme pesquisa feita pela Gazeta do Povo na última segunda-feira (3), um contribuinte que tentasse agendar uma data para ser atendido conseguiria vaga apenas para daqui a seis meses – e somente na agência localizada no bairro Hauer. Nas demais unidades (Av. Cândido Lopes, Av. Visconde Guarapuava e Rua XV de Novembro) não há vagas disponíveis para agendamento, nem previsão de abertura de novos horários.
Ao mesmo tempo, a ansiedade em garantir o benefício vem rodeada de dúvidas e desinformação por boa parte dos contribuintes. Segundo uma pesquisa realizada em agosto pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) em parceria com a Ipsos, 86% dos brasileiros tem pouca informação sobre como funciona o sistema previdenciário. Para piorar, 44% não acompanham as discussões sobre as mudanças nas regras da aposentadoria que estão acontecendo.
Mesmo próxima da época de se aposentar, Dorilde Dalaross, 58 anos, faz parte da grupo que não acompanha o debate sobre a reforma. De passagem no INSS para regularizar o valor da sua contribuição autônoma, a diarista não conta com as mudanças que estão por vir e espera, apenas, não perder contribuições já feitas. “A gente que tem pouco estudo entende pouco disso. Do jeito que for, vai ser. Eu só quero ver se chego lá, sabe?”, comenta Dorilde.
Segundo a mesma pesquisa, dos 54% que dizem estar cientes das discussões de reformas, 45% ouviram falar sobre aumento da idade mínima de aposentadoria, enquanto 17% citaram a elevação do tempo de contribuição.
Idade mínima
Para o guarda municipal Wilson Rodrigues de Almeida, 59, que acompanha o debate pelos jornais, a proposta de aumento da idade mínima, inclusive para servidores públicos (de 60 para 65, no caso dos homens), o coloca em alerta. “Se eu aposento agora para escapar da reforma, eu fico com uma dívida grande que estou quitando aos poucos. Se eu deixo pra aposentar depois que sanar a dívida, eu não sei se conseguirei aposentar quando eu quiser. Estou entre duas espadas”, afirma.
Sobre o aumento da idade mínima, Almeida discorda do argumento de que toda a população está vivendo mais. “Quem tá vivendo mais? Quem não precisa de auxílio, né? Eu preciso. Vou fazer 60 anos e estou enfermo. Perto dos 70 já vou estar preparando o caixão”, comenta o guarda municipal. “Eles fazem o que querem e a gente vai ter que aceitar”.
Para Eunice Alves, o momento também é de apreensão. Com 58 anos e 22 de contribuição, nas áreas de vendas e administrativa, ela tinha a intenção de se aposentar por idade, em 2018. “Agora não sei como vai ser. Foge do que eu estava planejando. Essa reforma precisa ser feita pensando em quem mais precisa”, reflete.
Ela questiona, ainda, quais as possibilidades de trabalho para as pessoas que terão de estender o tempo de contribuição. “Com mais de 60, fica limitado o que uma pessoa pode fazer, ainda mais se for trabalho físico”, comenta Eunice.