A aprovação da reforma da Previdência deve abrir as portas para uma maior entrada de capitais estrangeiros no Brasil, como, por exemplo, em operações de fusão e aquisição. Nos oito primeiros meses do ano, foram 157 operações, segundo a consultoria PwC, 11% a mais do que no mesmo período de 2018, mas ligeiramente abaixo dos níveis do início da década.
“A reforma da Previdência é o primeiro passo. Uma maior presença de estrangeiros vai depender de mais reformas, que se mostrem duradouras, e impactem no longo prazo”, diz Leonardo Dell’Osso, sócio da consultoria para fusões e aquisições.
Outras reformas que podem tornar o Brasil mais atraente para esse tipo de operações, segundo o especialista, são a tributária - “vai colocar a rentabilidade dos negócios em padrões internacionais”, diz o especialista -, a política e a administrativa. “É necessário, também, facilitar o acesso ao mercado de capitais e de crédito.”
Um bom termômetro para a maior participação do capital estrangeiro em operações de fusão e aquisição deve ocorrer com a intensificação do programa de concessões e privatizações, a partir do próximo ano.
“Além da tecnologia, áreas como saneamento, infraestrutura, logística, produtos de consumo, serviços e setor financeiro despertam o interesse dos estrangeiros”, diz o sócio da PwC.
A expectativa da empresa de consultoria é de que 2019 encerre com recorde histórico de transações. Até agosto foram 530, um número superior à média registrada entre 2010 e 2015, quando houve um boom nas fusões e aquisições. "Os investidores nacionais já estão enxergando bons ventos e 2020 deve ser melhor ainda", antecipa.
Otimismo movimenta fusões e aquisições
Outro relatório - feito pelo escritório internacional de advocacia Baker McKenzie e pela consultoria Oxford Economics - aponta que as operações de fusão e aquisição no Brasil têm se destacado devido ao otimismo com a recuperação econômica e as reformas pró-mercado. Uma das operações mais relevantes foi aquisição da Fibria pela Suzano Papel e Celulose, uma operação de US$ 10 bilhões, que criou o maior produtor mundial de celulose.
O escritório de advocacia e a consultoria apontam que operações de fusões e aquisições e de aberturas de capital devem ganhar força a partir de 2021 no Brasil. E, segundo eles, o que pode impulsionar esse cenário é a agenda de reformas que está sendo discutida, como a Previdenciária e a Tributária, ou a Lei da Liberdade Econômica, aprovada recentemente.
“A expectativa de aprovação de importantes reformas para endereçar o déficit fiscal e propiciar um ambiente de negócios mais favorável no país vem impactando positivamente as transações no Brasil. Contudo, as turbulências políticas e econômicas pelas quais os países da América Latina passam afetaram a decisão de investidores estrangeiros que buscavam evitar os riscos de investir no mercado nacional”, diz Lara Schwartzmann, sócia do escritório de advocacia Trench Rossi Watanabe.
A expectativa é de que, com a recuperação econômica, o valor das fusões e aquisições salte para US$ 40 bilhões, em 2021, e US$ 47 bilhões, em 2022, de acordo com estudo feito pelo escritório internacional de advocacia Baker McKenzie e pela consultoria Oxford Economics. O desempenho está atrelada à melhoria na atividade econômica. Instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central projetam que a economia brasileira poderá crescer a um ritmo superior a 2% a partir do próximo ano.
A participação de capital estrangeiro para atingir esses números é vital. “O atual cenário global afugenta o pessoal de fora. Eles querem menos expectativas e mais resultados”, diz a advogada. Atualmente, segundo o relatório da Baker McKenzie e da Oxford Economics, o Brasil é um país pouco atraente para transações como IPOs e fusões e aquisições. Entre 42 países pesquisados está na 37ª posição. Na América Latina, só ocupa posição melhor do que a Argentina.
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Mais avanços além da reforma da Previdência
Apesar da aprovação da Reforma da Previdência ter sido bem recebida por investidores, especialistas apontam que é só parte da solução para os problemas da economia brasileira. "O risco é acreditar que a queda de juros é suficiente. A forma como o país drena a renda da população e não entrega serviços está muito errada", disse o economista e filósofo Eduardo Gianetti da Fonseca, durante o Brazil Summit 2019, que aconteceu em São Paulo.
Outro fator que favorece a retomada da economia é uma questão cultural, aponta Marcos Lisboa, presidente do Insper: "O fracasso econômico de Dilma Rousseff fez com que as pessoas mudassem de opinião. Deixaram de valorizar a intervenção nos preços da energia elétrica, por exemplo. Os obstáculos para o crescimento do país somos nós mesmos, que não aceitamos reformas."