Estratégia é tentar contornar a resistência da equipe econômica a esses repasses, que somariam R$ 485 bilhões em dez anos.| Foto: Pixabay
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Os governos estaduais deflagraram uma articulação junto ao Congresso Nacional para incluir na reforma tributária dois fundos bilionários de compensação para os Estados e municípios. A estratégia é tentar contornar a resistência da equipe econômica a esses repasses, que somariam R$ 485 bilhões em dez anos.

O impasse é considerado um dos pontos mais delicados das negociações. Ontem, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), defendeu um "freio de arrumação" na reforma tributária e argumentou sobre a necessidade de convidar o ministro da Economia, Paulo Guedes, para prestar esclarecimentos.

"O governo vai entregar ou não as quatro fases da reforma? Vai ou não ter recursos para compensar Estados e municípios?", questionou durante reunião da comissão mista que discute a proposta.

Os governos querem usar parte da alíquota do novo imposto sobre valor agregado (IVA), que vai ser criado com o objetivo de fundir outros tributos, para irrigar os fundos. Guedes, por sua vez, vê nessa proposta uma tentativa de "sangrar" os cofres da União. A equipe econômica argumenta que os Estados já receberão R$ 65,6 bilhões até 2037 devido à negociação que pôs fim ao imbróglio da Lei Kandir, que desonerou exportações do pagamento de ICMS.

Em substituição a esses dois fundos, o governo federal propõe entregar aos Estados a gestão e a governança de seis fundos já existentes, três constitucionais e três regionais. Os fundos constitucionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste recebem anualmente 3% da arrecadação com impostos federais e hoje acumulam cerca de R$ 150 bilhões. Já os fundos regionais dependem de dotação orçamentária e estão desde 2015 praticamente parados.

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Sem garantia de recursos

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Os governos estaduais rejeitam essa proposta porque não há garantia concreta de recursos. Parte dos impostos federais que hoje servem de base para os repasses aos fundos constitucionais seriam inclusive extintos e unificados no IVA, ou seja, não haveria novas entradas. Além disso, esse dinheiro não vai diretamente para os cofres estaduais - eles servem de fonte para bancar financiamentos.

A estratégia dos Estados agora é defender a criação dos fundos regional e de compensação das exportações junto ao Congresso, negociando diretamente com o relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e com lideranças partidárias para incluí-los no texto final da reforma. A articulação é delicada inclusive entre os Estados, já que os governos do Sul e do Sudeste temem que a divisão do bolo acabe beneficiando muito mais Norte e Nordeste.

O secretário de Fazenda do Paraná, Renê Garcia Junior, disse ao Estadão/Broadcast que o relator "será ousado" em seu parecer, mas não deu pistas se houve sinalização positiva à criação dos fundos. "Ele não tem necessariamente obrigação de agradar à União", disse o secretário.

Garcia Junior disse defender que os Estados tenham condições de "andar por conta própria", mas admitiu que a situação fiscal do governo federal dificulta "acenos mais generosos da União. "A questão vai ter que ser resolvida, o Congresso está num passo que está forçando os agentes para que tenham uma solução", afirmou o secretário, acrescentando que a intenção do relator de apresentar seu parecer até o fim de outubro.

A reportagem não conseguiu contato com o relator Aguinaldo Ribeiro. O Ministério da Economia não comentou.

Na audiência, Tebet sugeriu que, em meio ao impasse sobre as compensações, os parlamentares façam uma aprovação "em módulos", com um IVA federal primeiro e depois, quando houver recursos para os fundos, incluir Estados e municípios.