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Juros
Mesa-redonda sobre taxas de juros e contas públicas foi um dos marcos da comemoração dos 80 anos da Fiep| Foto: Gelson Bampi/Sistema Fiep

A redução nos elevados juros cobrados de empresas e de consumidores no Brasil passa pela realização de reformas estruturais, como a administrativa. A Selic fixada em 10,5% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada no final de julho, faz com que o país tenha a terceira maior taxa real (descontada a inflação) do mundo, atrás da Turquia e da Rússia.

O custo do dinheiro para empresas e consumidores, entretanto, é bem maior. Dados do Banco Central (BC) mostram que, em junho, a taxa de juro média cobrada nas operações de crédito com recursos livres (não subsidiados) para pessoas jurídicas era de 20,94% ao ano, quase o dobro da taxa básica.

Já para as pessoas físicas, a taxa média era de 51,7%, a menor desde julho de 2022. O custo de algumas modalidades de crédito, de acesso mais fácil e sem garantias, como o rotativo do cartão, é proibitivo: 429,5%, mais de 40 vezes superior.

Um dos principais fatores que contribuem para que o país tenha um elevado custo do dinheiro é a deterioração das contas públicas. O déficit primário (gastos do governo excluídas as despesas com os juros da dívida pública) acumulado em 12 meses era de 2,44% do PIB, em junho. Ao final do governo de Jair Bolsonaro (PL), em dezembro de 2022, havia um superávit de 1,25% do PIB. O endividamento público está em 77,6% do PIB, o nível mais alto desde fevereiro de 2022.

O tema esteve na agenda de discussões de mesa-redonda realizada nesta quinta (15) na sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), como parte da comemoração dos 80 anos da entidade.

O evento, que contou com a mediação da jornalista Thais Herédia e o apoio da Gazeta do Povo, reuniu o ex-presidente Michel Temer; o presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Jorge Gerdau Johannpeter; e o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.

 “O crédito dá oxigênio para as operações de nossas indústrias e é fundamental para garantir investimentos, inclusive para melhorar a capacidade tecnológica do nosso parque fabril”, disse o presidente do Sistema Fiep, Edson Vasconcelos.

Debate sobre juros está muito polarizado, diz presidente da Fiep

Segundo Vasconcelos, atualmente, há um debate muito ideológico e repleto de polarização sobre o tema. O dirigente empresarial também destaca que o país precisa encontrar caminhos para que tenha uma taxa de juros que impulsione a competitividade da indústria brasileira.

A cada decisão tomada pelo Copom há fortes reclamações por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seus aliados. Um dos posicionamentos que vem sendo criticados é o do diretor de Política Monetária do BC e cotado para ocupar a presidência da autoridade monetária a partir de janeiro, Gabriel Galípolo. Ele, que já foi o número 2 do Ministério da Fazenda e foi indicado por Lula ao cargo que ocupa atualmente, reiterou nesta semana a possibilidade de elevação na taxa Selic.

Custo financeiro pesa sobre as empresas

Estudo realizado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC) sinaliza que o impacto do elevado custo financeiro para as empresas era de R$ 260 bilhões em 2021. O número inclui despesas com a oferta de capital, o risco-país e as taxas de juro.

“Os juros que pagamos são um limitador enorme na competitividade do país, quanto menor a empresa, mais caro é o crédito”, destacou Gerdau.

Segundo o empresário, que também é presidente do Conselho de Administração da Gerdau, sem pressão empresarial e política, esses números não serão corrigidos.

Pressão política é essencial, diz ex-presidente

Temer apontou que a pressão sobre os políticos é essencial para que se criem políticas de longo prazo que sinalizem para uma queda permanente da taxa de juros.

“A classe política precisa ser mobilizada. No instante que as federações das indústrias se manifestam, isso mobiliza o Congresso, que é muito sensível às reações populares.”

O ex-presidente também destacou iniciativas de seu governo, como o teto de gastos, como estratégia para dar mais previsibilidade às contas públicas e à economia. “Ele ainda existe, é chamado agora de arcabouço fiscal, mas permite um aumento de gastos equivalente a 2,5% da receita líquida".

De acordo com ele, ao reduzir o gasto público, a tendência é de uma queda no endividamento público. “Isto é fundamental para o país.”

Outra questão que é relevante para a redução do custo Brasil é a reforma administrativa. “Agora está em discussão a questão tributária. Neste momento é muito difícil reduzir os tributos. A máquina pública é pesada.”

Sociedade brasileira aumenta compreensão sobre relação entre gastos públicos e juros

O economista-chefe do BTG Pactual reconheceu que a sociedade brasileira vem demonstrando maior compreensão sobre a relação existente entre os gastos públicos e a taxa de juros.

“Para a gente ter a clareza de que a dívida vai cair e o Estado será responsável, são necessárias algumas reformas adicionais, mas é isso que nos trará taxas de juros permanentemente mais baixas. E é por meio do debate que a gente vai conseguir fazer um ajuste fiscal duradouro”, disse Mansueto.

Um fator que também contribui para as taxas elevadas de juro, segundo ele, é o crédito direcionado. Ele geralmente é subsidiado e realizado por instituições financeiras públicas. A fatia dessas operações no saldo total da carteira de crédito brasileira era de 41,8% em junho, de acordo com o BC. Há dois anos era de 39,4%.

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