A parceria comercial entre Brasil e China lembra, em alguns aspectos, a relação que o Brasil colonial mantinha com Portugal, a metrópole. Em ambos os casos, os brasileiros figuram como exportadores de matérias-primas e importadores de bens manufaturados combinação que incomoda a indústria nacional e uma grande vertente de economistas, para os quais o Brasil está no rumo da "desindustrialização".
De acordo com o MDIC, minério de ferro, petróleo bruto e soja em grão representam 86% de tudo o que o país vende à China. As exportações do Paraná são ainda mais concentradas: quase 90% do que o estado manda para a China é soja. Em contrapartida, trazemos de lá uma infinidade de produtos industrializados de componentes e máquinas industriais a bens de consumo, como eletrodomésticos, eletroeletrônicos e, mais recentemente, automóveis.
"O relacionamento comercial entre Brasil e China traz vantagens, pois gera o intercâmbio de produtos de extrema necessidade para ambos. Porém, trata-se de uma relação desigual", diz a economista Giuliana Santini Pigatto, professora de Comércio Exterior da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Segundo ela, além de vender essencialmente produtos de baixo valor agregado e comprar mercadorias mais sofisticadas, o Brasil responde por apenas 2,8% de todas as importações da China isto é, dependemos muito mais dos chineses do que eles de nós.
Para Giuliana, mais do que uma possível desaceleração chinesa, o principal problema a ser enfrentado pelo Brasil pode ser uma reação protecionista da China contra medidas baixadas por Brasília. "Devido à expressiva valorização do real, o governo brasileiro vem adotando, de maneira intensa, medidas protecionistas contra importações. Em algum momento, o governo chinês pode adotar igual política."
Segundo a economista, o caminho para a "desconcentração" e o aumento do valor agregado das exportações brasileiras pode estar nos países latino-americanos. "Mesmo com União Europeia e Estados Unidos em dificuldades financeiras, há outros mercados a serem explorados, como a região da América Latina e Caribe", diz. "De tudo o que essa região importa do Brasil, 79% são produtos manufaturados, de alto valor agregado".
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