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Política monetária

Relatório do BC agrada empresariado

O empresariado paranaense aprovou com ressalvas a mudança de posicionamento do Banco Central (BC) sobre o controle da inflação, anunciada em relatório divulgado na quarta-feira. Para preservar um crescimento maior do PIB, a autoridade monetária admite deixar a inflação mais solta, sem medidas drásticas para fazê-la retornar ao centro da meta (de 4,5%) em 2011. Com isso, ficam descartados grandes aumentos na taxa Selic, o que anima setores como a indústria. O medo, no entanto, é que fique muito difícil domar a inflação no futuro.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo Rocha Loures, a mudança pode ser positiva, já que o Banco Central estaria caminhando para uma transição da politica monetária. "Por muito tempo a política econômica tem se baseado no aumento na taxa de juros para controlar a inflação, mas essa é uma política de má qualidade. Hoje está sendo mudada a estratégia, em uma transição para ter como base a âncora fiscal. Outras medidas, como os depósitos compulsórios e o IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], também são eficazes, não apenas a Selic", argumenta.

O presidente do Sistema Fecomércio-PR, Darci Piana, lembra que no início do ano o Planalto fez cortes no Orçamento e o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic, e mesmo assim a inflação não foi domada. "As medidas precisam ser revistas, já que os cortes e a Selic não deram repercussão. Essa mudança é necessária para garantir o crescimento do país, já que muitos setores já investiram tendo como foco uma alta do PIB", analisa Piana. Entretanto, o presidente da Fecomércio pondera que o atual cenário não é favorável para a diminuição dos preços no longo prazo. "Tenho preocupações se isso vai mesmo ocorrer. Com o crédito facilitado e o dólar baixo, os bancos continuam emprestando e as pessoas seguem consumindo. Quando elas não encontram os produtos nas prateleiras, os preços tendem a aumentar", ressalta.

Rocha Loures acredita que isso não deve acontecer. "Uma inflação um pouco maior viria para corrigir algumas anomalias da economia brasileira, que estava reprimida por causa de uma overdose de juros. Toda a economia vai ganhar, já que taxa de juros sob controle e alta demanda resultam em investimentos", explica o presidente da Fiep.

O presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Edson Ramon, também vê a medida de forma positiva, mas observa que o BC não pode deixar a inflação chegar ao teto da meta. "O Banco Central precisa ser muito cauteloso. É necessário fazer um monitoramento muito mais preciso que aquele feito hoje", recomenda Ramon. O BC já trabalha com uma variação do Ín­dice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,6% em 2011, acima do centro da meta (4,5%), mas dentro do teto (6,5%).

A alta da inflação pode ser boa ainda para o setor de imóveis, já que o aluguel tende a subir com o aumento dos preços. Entre­tanto, o superintendente do grupo Apolar Imóveis, Jean Michel Galiano, também ressalta as incertezas de se permitir que a inflação suba além do centro da meta. "Alguns setores da economia podem se beneficiar da alta, outros não. No geral, para a população, o aumento dos preços não é bom. Medidas como essa podem trazer insegurança à economia", aponta Galiano.

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