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Renda
Com renda em alta, vendas no comércio varejista ampliado cresceram 4,8% nos cinco primeiros meses do ano em comparação a igual período de 2023.| Foto: Albari Rosa/Arquivo AEN

A renda das classes A e B deve crescer mais que o dobro dos ganhos das classes mais baixas neste ano, segundo cálculos da Tendências Consultoria.

Juros altos, renda de empregadores e rendimentos do trabalho devem beneficiar as faixas mais altas, enquanto a falta de reajuste no Bolsa Família e a revisão cadastral de benefícios assistenciais tende a afetar os mais pobres.

A empresa adota a seguinte classificação de faixas de renda, assumidamente arbitrária devido à falta de medida oficial:

  • classe A: renda total do domicílio superior a R$ 24,8 mil, situação de 3,9% dos lares brasileiros
  • classe B: renda domiciliar entre R$ 8 mil e R$ 24,8 mil, caso de 15% das residências
  • classe C: entre R$ 3,3 mil e R$ 8 mil (31,2% dos lares)
  • classe D/E: até R$ 3,3 mil (49,9% dos lares).

A Tendências estima que a renda total dos domicílios deve aumentar 5,6% em 2024, impulsionada pela dinâmica favorável do mercado de trabalho. A renda proveniente dessa fonte deve subir 6,6% no ano, beneficiada pela inflação mais amena e pelo reajuste real do salário mínimo.

De acordo com o estudo, a tendência de médio prazo indica que a renda dos domicílios da classe A continuará a ser favorecida pelos juros elevados. A classe B também se fortalece, pois os rendimentos do trabalho tendem a seguir em alta devido ao cenário desinflacionário e ao aumento do emprego com carteira assinada.

Por outro lado, a Tendências prevê que a migração das famílias das classes D/E para a classe C será lenta nos próximos anos, refletindo um fenômeno comum em países com alta desigualdade de renda. "O principal obstáculo ao crescimento da renda nos estratos sociais mais baixos é a educação que não se traduz em produtividade", diz o relatório.

Manutenção de juros altos favorece a classe A

A massa de renda domiciliar da classe A deve aumentar 6,6% neste ano, beneficiada pela manutenção dos juros em níveis elevados. A perspectiva da maioria do mercado financeiro é de que a taxa básica (Selic) permaneça em 10,5% neste ano e tenha cortes modestos em 2025.

A elite do funcionalismo público tende a sentir menos os efeitos de eventuais crises, pois a dinâmica econômica tem pouco impacto sobre seus salários e planos de carreira. No entanto, a Tendências cita limitações ao crescimento desse grupo no longo prazo, como a "perspectiva de reduzida geração de postos na administração estatal".

A maior concentração de empregadores no topo da pirâmide social também contribui para um rápido reequilíbrio financeiro das famílias da classe A, segundo a Tendências. "Os donos de negócios, com rendimentos atrelados aos ganhos de suas empresas, buscam recuperar o padrão histórico de lucro antes de reajustar os salários dos empregados e recontratar", destaca o relatório.

Com base nas projeções para a massa de renda e o IPCA dos itens essenciais (habitação, transportes, saúde e cuidados pessoais, comunicação e alimentação), a classe A deve dispor de R$ 1,4 trilhão para consumo de itens não essenciais em 2024, um aumento de 6,1% em relação a 2023.

A classe A tem maior capacidade de cortar gastos, pois a participação do consumo de bens essenciais em sua renda é proporcionalmente menor que nas classes D/E. Parte da renda das classes mais altas pode ser direcionada para investimentos e poupança, diante das elevadas incertezas.

"No entanto, em momentos de recessão, bens de luxo e produtos supérfluos tendem a sofrer uma queda temporária", afirma o relatório da Tendências.

Classe B deve apresentar o maior crescimento de renda

A classe B deverá ter uma alta de 7,2% na renda domiciliar neste ano, impulsionada pelo bom desempenho do mercado de trabalho. Dados do projeto Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que, no primeiro semestre, 87,2% dos reajustes salariais superaram a inflação calculada pelo INPC, com um reajuste mediano real de 1,3 ponto percentual, o maior desde 2014.

Em maio, o desemprego estava em 7,1%, o menor nível desde janeiro de 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de trabalhadores com carteira assinada chegou a 46,6 milhões, maior número da série histórica iniciada em janeiro de 2020, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (MTE).

A Tendências projeta que, no restante do ano, o rendimento habitual real de todos os trabalhos continuará a crescer, embora a um ritmo menor do que em 2023.

"Os dados do Novo Caged mostram sinais de aquecimento dos empregos celetistas nos primeiros meses de 2024. Para o restante do ano, espera-se que o ritmo de crescimento se mantenha, apesar da desaceleração da atividade econômica doméstica. O crescimento contará com uma maior contribuição dos componentes mais cíclicos da economia, intensivos em trabalho", destaca o relatório.

Perda de fôlego na atividade econômica limita a expansão da renda da classe C

Na avaliação da Tendências, a desaceleração da atividade econômica limita o crescimento da renda da classe C. A expectativa para este ano é um aumento de 4,5%, ligeiramente acima da inflação esperada para o ano – o mercado prevê IPCA de 4,1%, conforme o boletim Focus, do Banco Central.

Nos primeiros meses de 2024, houve uma dinâmica favorável no mercado de trabalho, refletida na expansão da população ocupada, que aumentou quase 3% em relação ao mesmo período de 2023, totalizando 101,3 milhões de pessoas com 14 anos ou mais, segundo o IBGE.

Para o restante do ano, espera-se uma desaceleração no crescimento da população ocupada, devido à redução do PIB agropecuário, ao menor ímpeto da economia global e aos efeitos das tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul entre abril e maio.

A consultoria ressalta que a entrada no mercado de trabalho é um meio importante para reduzir a pobreza, mas não é suficiente para superá-la. "O mercado de trabalho brasileiro é caracterizado por baixas remunerações, grandes desigualdades entre grupos de trabalhadores, altas taxas de informalidade e marcante heterogeneidade entre os setores produtivos", destaca o estudo.

Apesar do cenário positivo no mercado bancário – com a carteira de crédito crescendo 9,9% em 12 meses, segundo dados de junho da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) –, o aumento da inflação dos alimentos (4,91% no mesmo período, segundo o IBGE) ainda prejudica o crescimento mais robusto do consumo.

"O aumento dos preços dos alimentos afeta todas as classes de renda, mas as faixas mais baixas, que já têm uma menor parcela de renda disponível, são as mais impactadas", conclui o relatório da Tendências.

Mais pobres devem ter o menor crescimento de renda em 2024

A classe D/E, que representa 49,9% dos domicílios brasileiros, deve ter o pior desempenho no crescimento da renda domiciliar neste ano, com uma alta de 3,2%. Essa classe depende fortemente das políticas sociais do governo federal, incluindo o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a Previdência Social e outras fontes de renda.

Após o forte aumento das transferências do Bolsa Família em 2023, o volume delas deve registrar um desempenho modesto neste ano, devido à falta de reajuste no valor médio dos benefícios e à revisão do cadastro de beneficiários, como parte das medidas de ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A consultoria destaca que, para a população mais pobre, a noção de patrimônio é mais abstrata, restringindo-se a salários adiantados, cadernetas de poupança e alguns bens duráveis.

Expectativas para o varejo no segundo semestre

A Tendências projeta que, no segundo semestre de 2024, as vendas no varejo devem continuar a crescer, impulsionadas pelo mercado de trabalho ainda aquecido e pelos preços de bens industriais. Nos primeiros cinco meses do ano, o volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui materiais de construção, veículos, motocicletas, partes e peças, cresceu 4,8% em relação ao mesmo período de 2023.

O segmento de bens duráveis pode ter um bom desempenho, com a melhoria da situação financeira das famílias após anos de alta inadimplência e altos níveis de comprometimento da renda.

A inadimplência das pessoas físicas em carteiras com recursos livres está em queda contínua desde 2022, quando estava em 5,9%, e atualmente é de 5,3%, segundo o BC. O nível de comprometimento da renda anual, que chegou a 26,2% no passado, caiu para 24,6% em 2024.

A expectativa da Tendências é de que o cenário para o consumo continue a melhorar em 2025 e na sequência.

"A massa de renda segue em expansão, com maior geração de empregos formais e um mercado de crédito que continua a crescer, dado os níveis cada vez mais atrativos das condições financeiras. A poupança deve continuar a crescer e apoiar o consumo, ainda que a um ritmo mais gradual, devido aos menores níveis da Selic", conclui a consultoria.

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