Rio de Janeiro - Mais dinheiro no bolso dos consumidores e um verão ensolarado garantiram à indústria de bebidas um bom desempenho em meio à derrocada industrial. Enquanto a produção industrial total do país despencou cerca de 15% em abril na comparação com o mesmo mês de 2008, os fabricantes de bebidas registraram alta de 5%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O economista da coordenação de indústria do instituto, André Macedo, disse que o bom desempenho vem sendo puxado especialmente por produtos como cerveja e refrigerante, que registram expansão mensal em torno de 10% em comparação com o ano passado. Ele atribui o crescimento à manutenção do aumento da renda, fator determinante para os resultados de bens de consumo não duráveis, como as bebidas.
O gerente de relações com investidores da AmBev, Michael Findlay, acredita que o desempenho da indústria de cerveja e refrigerantes tenha destoado da indústria em geral nos primeiros meses deste ano porque esse é um segmento com maior estabilidade. "Quando a indústria cresce 20%, nunca acompanhamos esse patamar, mas também não caímos tanto em momentos de crise", diz.
Segundo Findlay, o aumento do salário mínimo, o clima favorável e o fato de o carnaval ter sido realizado duas semanas mais tarde do que no ano passado, prolongando as férias, foram determinantes para o bom desempenho do setor, mas o "fator renda" representou a principal influência positiva. Ele avalia que o cenário ainda é positivo e só será alterado em caso de efeitos mais graves da crise no desemprego. No primeiro trimestre, as vendas de cerveja da AmBev subiram 7,6% em relação ao mesmo período de 2008, enquanto as vendas de refrigerantes cresceram 12,6%.
Cerveja
O superintendente do Sindicato da Indústria da Cerveja (Sindcerv), Enio Rodrigues, disse que o consumo de cerveja no país tem crescido a cada ano e a tendência é de prosseguir, com o aumento da inclusão social. O consumo per capita tem crescido desde 2004 e, no ano passado, houve aumento em torno de 6%. Segundo os últimos dados disponíveis, de 2007, o consumo per capita anual do produto chega a 56 litros.
De acordo com Rodrigues, o potencial das vendas fazem do país a "menina dos olhos" da indústria cervejeira no mundo inteiro. Hoje, o Brasil é o quarto maior produtor, com 10,34 bilhões de litros/ano. Só perde para a China (35 bilhões), Estados Unidos (23,6 bilhões) e Alemanha (10,7 bilhões).
Coca-Cola
A Coca-Cola Brasil também diz não ter sentido os efeitos da crise. Após uma expansão de 7% nas vendas em 2008, a empresa contabilizou incremento de 4% na comercialização de seus produtos no primeiro trimestre. "O consumo de bebidas está muito ligado à renda das famílias. Apesar da crise, a renda não sofreu uma queda tão expressiva, que mudasse o hábito de nossos clientes", justifica Marco Simões, vice-presidente de comunicações e sustentabilidade da empresa. Ele ressalta que o desempenho do mercado brasileiro ficou bem acima do mundial, que entre janeiro e março deste ano cresceu 2%.
Confiante na manutenção do crescimento do mercado, a empresa manteve seu plano de investimentos. Ao todo, o chamado Sistema Coca-Cola, que inclui franqueados autorizados a produzir os produtos da marca, investirá R$ 1,75 bilhão em 2009, volume 16,6% superior ao do ano passado.