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Resistência

Renda e demografia reduzem o desemprego em ano de PIB fraco

Cristina Lima, da Casa das Cadeiras: na contramão do setor, a loja não demitiu | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Cristina Lima, da Casa das Cadeiras: na contramão do setor, a loja não demitiu (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

O Brasil provavelmente cresceu 3% ou menos em 2011, expansão considerada baixa. Mas isso não impediu que a taxa média de de­­semprego medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) recuasse de 6,7% em 2010 para 6% no ano passado. E nem evi­­tou o avanço do mercado formal, que segue em alta neste ano.

Em janeiro, o país criou cerca de 119 mil empregos com carteira assinada, segundo dados do Ca­­dastro Geral de Empregados e De­­sempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Tra­balho. O volume de postos criados ficou 21,8% abaixo do resultado do mesmo mês de 2010, mas ainda assim foi visto com otimismo, por sugerir uma recuperação da atividade econômica após a estagnação vista no fim de 2011.

Segundo especialistas, fatores estruturais e cíclicos explicam o fato de o desemprego estar tão baixo em meio ao lento avanço da economia. Um desses fatores é a continua expansão do Produto In­­terno Bruto (PIB) e, principalmente, do rendimento real dos trabalhadores em níveis acima do registrado pelo incremento da Popula­ção Economicamente Ativa, a PEA.

De acordo com o economista e sócio da consultoria MCM An­­tônio Madeira, o PIB de 2011 deve ter subido 2,8%, mas a média anual da expansão econômica entre 2003 e o ano passado foi bem mais alta, de 3,9%. Ao mesmo tempo, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), medida em seis regiões me­­tropolitanas, mostra que a taxa de crescimento da População Econo­micamente Ativa desacelerou de 2% em 2010 para 1,2%, no ano passado. Com a geração de vagas crescendo mais rápido que a PEA, o desemprego tende a cair ou, no mínimo, ficar estável.

Baixa escolaridade

Outro elemento importante para explicar a relação contraditória entre crescimento e desemprego é o baixo nível de escolaridade de boa parte da PEA. Muitas pessoas encontram trabalho – especialmente no setor de serviços – que exige qualificação, em geral, bem inferior a outros segmentos produtivos, como a indústria. "De 2008 a 2011, cerca de 72% da geração de empregos no país ocorreu no segmento de serviços", diz o presidente do Instituto de Pesquisa Econô­mica Aplicada (Ipea), Márcio Poch­mann. "Dos 20 milhões de postos de trabalho gerados de 1999 a 2009, cerca de 90% eram remunerados em até 1,5 salário mínimo."

Renda maior

Na avaliação do economista da LCA Fábio Romão, o avanço da renda da população nos últimos anos deve ter influenciado na redução da expansão da PEA em 2011. Segundo ele, de 2007 a 2011, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores subiu 17,4%, enquanto a PEA aumentou 7,9%. "A expansão da renda pode ter reduzido a necessidade de muitas famílias de reforçar o orçamento com o ingresso extra de um de seus parentes no mercado de trabalho", diz Romão.

Demografia

Um elemento adicional que pode estar colaborando de forma parcial para a redução da velocidade da expansão da PEA há alguns anos é a desaceleração da Popu­lação em Idade Ativa, a PIA, formada por pessoas com 10 anos ou mais. A PIA apresentou uma expansão de 1,8% em 2004 ante 2003, mas o ritmo caiu para 1,7% em 2007 e foi baixando gradualmente desde então, até atingir 1,3% em 2011. "A redução da velocidade desse indicador está relacionada com questões demográficas, que sinalizam um número menor de nascimentos", destacou Romão.

Comércio teve o pior desempenho em janeiro

O saldo de empregos formais criados no Brasil em janeiro, de 118.895 vagas, foi resultado de 1.711.490 contratações e 1.592.595 demissões, segundo o Caged. O comércio foi o setor de atividade que apresentou o pior desempenho no mês: os desligamentos do setor foram 36.345 maiores do que o volume de pessoas contratadas. O setor de serviços foi o que mais empregou no mês passado: 61.463 postos, já descontadas as demissões. Em segundo lugar ficou a construção civil, responsável pela geração de 42.199 vagas e a indústria de transformação, por 37.462.

Assim como na média nacional, no Paraná o número de empregos criados em janeiro foi inferior ao do mesmo mês de 2011. Mas, enquanto em todo o país a queda foi de mais de 20%, no estado houve um recuo de apenas 2%: foram criados 14.653 empregos no mês passado, o segundo melhor número da história, e 14.954 um ano antes. Os três setores que mais criaram vagas em janeiro foram serviços (7.811), indústria (3.941) e construção civil (3.819). Também no Paraná, o comércio mais demitiu que contratou no mês passado: o setor fechou 680 vagas, segundo o Caged.

Na contramão da tendência de demissões neste período – algo comum, em razão da dispensa de temporários contratados para o período de fim de ano –, a Casa das Cadeiras, de Curitiba, não demitiu neste início de ano. "Fizemos apenas uma contratação pensando nas vendas de Natal, e o funcionário acabou efetivado", diz Cristina Lima, dona da loja de móveis. "Posso dizer que temos uma situação boa, diferente do que acontece em outras áreas, até pelo fato de a atividade ser mais específica e o serviço, mais especializado", explica.

Colaborou Luiz Felipe Marques

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