Está enganado quem imagina que a cotação do dólar interessa apenas a investidores e exportadores. Os catadores de lixo estão acompanhando atentamente a evolução da moeda americana, pois quanto mais ela cai em relação ao real, menos dinheiro entra no bolso de quem não encontra emprego na economia formal e vive de catar latinhas, garrafas, papel e papelão.
A explicação é que os materiais recicláveis estão sendo seriamente afetados pela desvalorização da moeda americana. O alumínio, por exemplo, tem cotação internacional pela London Metals Exchange que vale para o mundo todo. Em dezembro do ano passado o catador de Curitiba ganhava R$ 3,70 pelo quilo da lata de alumínio. Hoje, com a queda do dólar, o preço máximo oscila entre R$ 2,95 e R$ 3,00. O quilo do papelão, por sua vez, caiu de R$ 0,30 para algo entre R$ 0,23 e R$ 0,25. Já o quilo da garrafa pet, que em dezembro de 2004 era vendido a R$ 1,20, hoje é negociado a R$ 0,60.
O resultado é que os catadores de lixo reciclado de Curitiba entre 3,5 mil e 4 mil pessoas, segundo a prefeitura tiveram sua renda reduzida este ano em nada menos do que 50%, informa o militante do Movimento Nacional de Catadores, regional do Paraná, Carlos Alencastro Cavalcanti.
Um catador da capital que não seja ligado a nenhuma associação ou movimento, e que em dezembro do ano passado tivesse rendimento mensal entre R$ 300 e R$ 600, vê sua renda cair para algo entre R$ 150 e R$ 300 desde então. Já o catador organizado, que no fim de 2004 conseguia obter uma renda de R$ 900 por mês, hoje tira no máximo R$ 450 se trabalhar todos os dias.
Segundo Cavalcanti, além da queda do dólar, que contribuiu para derrubar a cotação dos produtos reciclados, as indústrias estão se aproveitando da situação para especular, alegando ter grandes estoques. Além disso, elas estão optando por comprar resina virgem em vez de reciclada com o dólar no atual patamar, a margem de diferença entre uma e outra é de 20%, justifica Cavalcanti.
Uma das formas encontradas pela regional paranaense do Movimento Nacional de Catadores para amenizar o problema da queda de renda da categoria é desenvolver vendas conjuntas. "Com volumes maiores, além de conseguirmos preços melhores junto à indústria, também acabamos agregando mais qualidade ao material, quando da sua separação", destaca Cavalcanti.
O mercado brasileiro de reciclagem movimenta R$ 6 bilhões anuais e vem crescendo em média 15% ao ano. Somente na indústria são gerados 50 mil empregos diretos e outros 100 mil indiretos, que representam o sustento de mais de 500 mil famílias Brasil afora. Cerca de 11% do resíduo sólido urbano (vidro, lata, plástico e papelão) do país é reciclado, o que representa 5,5 milhões de toneladas. Entre os países que mais reciclam estão Estados Unidos, Japão, Alemanha e Holanda, mas, no que diz respeito a latinhas, o Brasil é tricampeão, com a marca de 8,2 bilhões de unidades recicladas. O índice brasileiro alcançou 85%, contra 83% do ex-líder Japão. (MG)
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