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Avanço do PIB será garantido pelo setor de serviços, que inclui o comércio | Daniel Derevecki/Arquivo/ Gazeta do Povo
Avanço do PIB será garantido pelo setor de serviços, que inclui o comércio| Foto: Daniel Derevecki/Arquivo/ Gazeta do Povo

Intenção de compra diminuiu em março

As famílias de renda mais baixa puxaram a queda na intenção de consumo dos brasileiros na passagem de fevereiro para março, informou a Confederação Nacio­nal do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O índice de In­­tenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 4,2%, para 133,6 pontos, entre os que recebem até dez salários mínimos. A média geral recuou 3,8% no período.

A confiança das famílias com renda acima de dez salários mínimos apresentou queda menor, de 0,8%, para 148,7 pontos. "No início do ano, há um comprometimento maior da renda das famílias com despesas e tributos. A família com renda de até dez salários mínimos sente muito mais esse comprometimento que as de renda mais alta", explicou Bruno Fer­nandes, economista da CNC.

O compromisso com pagamento de despesas extras no início do ano não se refletiu na intenção de consumo em janeiro e fevereiro em razão do aumento do salário mínimo, contou Fernandes. Para ele, a queda de março tem caráter pontual e que o consumidor não vai demorar a retomar o apetite pelas compras.

Indústria está sendo "depenada", diz Delfim

O economista e ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou ontem que o Brasil corre o risco de desindustrialização devido à perda de competitividade frente a produtos importados. "A indústria de transformação do Brasil está sendo depenada."

As declarações do ex-ministro foram feitas após debate sobre possíveis mudanças na remuneração da caderneta de poupança, realizado na sede da Fecomercio-SP. No evento, Delfim Netto alertou que o parque industrial brasileiro precisa ganhar competitividade a partir de reformas estruturais. A discussão, segundo ele, não se limita a discutir a redução da taxa de juros.

Uma delas, por exemplo, é a alta carga tributária do país. O ex-ministro, no entanto, se mostrou cético quanto à redução expressiva dos impostos. "É um sonho da gente achar que o Brasil vai baixar sua carga tributária", afirmou. "A Constituição do Brasil tem um objetivo quase utópico: saúde e educação universais e gratuitas. Isso significa dar igualdade e oportunidade a todo cidadão e isso exige impostos mais altos." A solução, disse o ex-ministro Delfim Netto, está no aumento da eficiência nos gastos públicos.

A trajetória de expansão da renda real no Brasil deverá manter-se como o único anteparo da economia, compensando os impactos negativos da fraca atividade industrial, por pelo menos mais um ano e meio ou dois, segundo analistas. Na média, eles esperam um crescimento de aproximadamente 3% da renda real neste ano e algo como 2% em 2013, o que levará a massa salarial a um crescimento de 5% e 4%, na mesma ordem. O setor industrial só voltará a dar uma contribuição mais efetiva ao crescimento econômico e ao nível de emprego entre 2013 e 2014, avaliam.

A lógica é que, com a renda real crescendo – por causa do aumento do mínimo e da formalização do trabalho, entre outros fatores – , o consumo se manterá robusto, fazendo com que o setor de serviços continue a absorver nos seus quadros o pessoal dispensado pela indústria. Abertura de novas vagas nos serviços manteria a expansão a massa de salários. Ao mesmo tempo, a indústria escorrega na avalanche de importações e nos baixos níveis de produtividade.

No ano passado, a indústria cresceu somente 0,3%, gerando 192,5 mil empregos. O setor de serviços, com uma participação de 69% do PIB, criou 1,2 milhão de empregos, 70% do total nacional. O peso do setor industrial no PIB foi de 14,6%.

Na BB DTVM, o cenário básico delineado pelo economista-chefe Marcelo Gusmão Arnosti contempla uma retomada da atividade industrial já a partir do segundo trimestre deste ano, podendo já chegar a taxas mais fortes nos dois últimos trimestres, em torno de 6% em termos anualizados, em resposta a três vetores: cenário externo mais forte, demanda doméstica aquecida e incentivos do governo.

Mesmo em um outro cenário hipotético – no qual a indústria não se recuperasse no horizonte de um ano e meio ou dois, mas países emergentes continuassem a crescer, demandando commodities, fortalecendo a agri­­cultura e a indústria extrativa mineral – Arnosti entende que o mercado de trabalho se manteria forte e sustentável.

Na LCA Consultores, o economista Fábio Romão projeta crescimento de 3,2% da renda real neste ano e de 2,4% no ano que vem. A massa salarial crescerá 5% em 2012 e deve mostrar expansão de 4,8% no ano seguinte. "O forte do crescimento da massa salarial neste ano será via renda. É por isso que a massa de renda cresce mais que a ocupação", avalia Romão. Para ele, em 2013 estas forças deverão se equilibrar, com a ocupação crescendo um pouco mais e a renda, um pouco menos.

Para o economista do Banrisul Cássio Zimmermann, o crescimento da massa de salários deverá manter-se em expansão porque a taxa de desemprego ao redor de 6% é algo que veio para ficar. "Achamos que esse é um caminho sem volta" diz. Para ele, o Brasil tem um longo caminho a percorrer na direção da formalização do mercado de trabalho. O trabalhador que sai da informalidade, que além de salários regulares passa a contar com benefícios que agregam à sua renda, só vem para o mercado formal se as empresas lhes oferecerem algo a mais do que eles ganham na informalidade.

Por isso, no Banrisul a previsão é de que a renda real dos trabalhadores no médio prazo cresça em média 2% ao ano. Este é, segundo o economista do Banrisul, o prazo que o banco espera que a crise internacional chegue ao fim e que se comece a retomada do crescimento econômico mundial e com a indústria já se vendo em um patamar mais elevado de produção.

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