O pedido feito pelo setor agrícola para que o governo federal faça uma grande renegociação de dívidas de agricultores depende de negociações políticas para ser atendido. Mas, mesmo que a pressão da bancada ruralista surta efeito, é pouco provável que o Ministério da Fazenda cubra todos os débitos incluídos nas reivindicações. Não existe no orçamento da União previsão de recursos para que o setor receba R$ 12,3 bilhões valor estimado pelo deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO) para que sejam saneadas as contas dos agricultores.
A previsão de Caiado foi feita no segundo semestre do ano passado, quando ele levou à Câmara um projeto de lei em que propunha a renegociação. Os agricultores pedem que a União assuma dívidas em atraso e dê mais prazo e condições melhores para que eles quitem os débitos diretamente com o Tesouro. Além disso, querem que contratos semelhantes assinados no passado sejam incluídos no acordo.
Para o economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade Nacional de Brasília (UNB) e especialista em administração pública, será difícil para a bancada ruralista convencer a Fazenda. Ele observa que o setor agrícola tem um histórico de renegociações e parte do governo vê exageros nos argumentos dos produtores rurais. "É verdade que o grau de risco dos agricultores é alto e que o agronegócio tem contribuído muito para o superávit comercial do país, o que serve de contraponto", pondera.
Segundo Piscitelli, o orçamento federal tem uma boa margem para que o governo federal negocie novas aplicações durante o ano, como ocorreu com o salário mínimo. "Só que o governo tenta atender a muitas demandas que parecem politicamente mais interessantes, como a operação tapa-buracos. Por isso, os R$ 12 bilhões estão fora de cogitação", diz.
O gasto com a securitização não está entre os mais populares. Entre os pequenos agricultores, é visto como um "privilégio". No mercado financeiro, é uma conta a mais para o governo federal assumir, aumentando sua dívida. "A renegociação traz um benefício muito pontual, não melhora o desempenho da economia", diz o economista Alexandre Fischer, da GRC Visão. "Quem tem dívida alta não é o pequeno produtor, é quem tem acesso a crédito e conhece bem o risco do negócio. O governo tem de ver se vale a pena atender", completa.
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