A combinação de tarifaço de energia elétrica e aumento de impostos e do dólar está fazendo com que a inflação de preços livres, como alimentos e serviços, seja mais resistente do que normalmente ocorre em períodos de recessão.
A alta dos preços livres, que não são influenciados diretamente pela regulação do setor público, se acelerou em fevereiro, quando ficou em 7,19% no acumulado em 12 meses, contra 7,09% em janeiro. Essa alta, embora pequena, é inesperada para períodos de desaceleração, quando produtores e comerciantes têm menos espaço para repassar a alta de custos para o consumidor.
Segundo economistas, a inflação está em um momento de transição, em que ainda estão sendo absorvidos aumentos de custos provocados pela disparada do dólar, que já ultrapassa os R$ 3,20, elevação do custo da energia e dos combustíveis, além de aumentos de impostos –problema que no Paraná será mais intenso do que em outros estados, já que a partir de abril será elevada a alíquota de ICMS, um imposto estadual, para milhares de produtos. Parte dessa pressão de custos certamente chegará ao preço final e, somente depois disso, a inflação dos preços livres deve ceder.
“O tarifaço público do início do ano impactou bastante outras áreas. A alta da energia, combustíveis e do transporte urbano foram disseminadas. Mas em uma economia que vai mal, o ofertante do serviço não consegue repassar todo aumento dos custos para o consumidor”, analisa o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores.
Desaceleração
Na projeção da consultoria Rosenberg Associados, os itens livres devem sofrer uma desaceleração de 6,7%, registrado em 2014, para 6,4% no fim deste ano. “Por mais que a gente espere isso, serviços têm sempre uma resistência maior de diminuição”, afirma o economista Leonardo França Costa, da Rosenberg.
Costa avalia que a resistência dos serviços trará “problemas a mais” para o BC, que deve ver a inflação acumulada em 12 meses cair abaixo do teto da meta de 6,5% ao ano somente em 2016. Para este ano, o mercado espera que o IPCA fique acima de 8%. Nas contas da Rosenberg, o número de 2016 será próximo de 5,6%.
Para a consultoria GO Associados, os itens livres devem chegar ao fim de 2015 com elevação de 6,5%. “Tanto o câmbio quanto os administrados devem atrapalhar um pouco a desaceleração mais forte que podiam ocorrer nos livres, mas eles vão ceder ao longo do ano por conta da desaceleração da economia, principalmente do mercado de trabalho”, afirma a economista Mariana Orsini, da GO Associados.
A projeção de instituições financeiras e economistas consultados pelo BC para o Boletim Focus é que a inflação feche o ano em 8,13%. Se a taxa se confirmar, será a maior variação anual do IPCA desde 2003.