As reservas internacionais superaram pela primeira vez na história a marca de US$ 250 bilhões, de acordo com o Banco Central. Com uma alta de pouco mais de US$ 500 milhões sobre o dia anterior, o estoque de moeda estrangeira no caixa do governo atingiu na terça-feira o volume recorde de US$ 250,35 bilhões. Quase 90% desse dinheiro está aplicado em títulos do governo dos EUA. Outras aplicações relevantes são recursos depositados em bancos no exterior e no Fundo Monetário Internacional (FMI).
Nas últimas semanas, mesmo com o BC comprando dólares, o estoque de reservas brasileiras ficou oscilando pouco abaixo dos US$ 250 bilhões, sem superar essa marca por causa do processo de desvalorização do euro, moeda que compõe pequena parte das reservas (cerca de 6%).
As reservas internacionais são uma espécie de seguro contra crises. No Brasil, a política de compra de divisas externas começou em 2004, mas ganhou força nos últimos três anos, devido ao aumento no fluxo de dólares para o país. No começo do governo Lula, o país tinha menos de U$ 40 bilhões. Há três anos, ultrapassou os US$ 100 bilhões.
"Colchão"
O tamanho desse "colchão" financeiro, que hoje supera com folga os US$ 211,6 bilhões da dívida externa brasileira, foi um dos fatores responsáveis pelo país ter atravessado a pior crise internacional em 80 anos sem grandes sobressaltos. Com o polpudo estoque de dólares, o Brasil pôde atuar para garantir a oferta de moeda estrangeira na economia diante da fuga de capitais e a total escassez de crédito externo que marcaram a fase mais aguda da crise.
Mas analistas questionam a continuidade dessa estratégia, por causa dos custos que ela impõe para comprar dólares, o governo faz dívida em reais, com elevada taxa de juros. Esse custo é estimado em US$ 30 bilhões, o que inclui a diferença entre os juros no Brasil e no exterior e a desvalorização das moedas internacionais em relação ao real. O ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas está nesse grupo. "O Brasil está enxugando gelo. Ao acumular mais reservas, o BC reduz a percepção de risco e atrai mais capital, o que o leva a fazer novas intervenções. Isso mostra a dificuldade que se tem para controlar a taxa de câmbio", afirmou. "O nível de US$ 250 bilhões já é mais que satisfatório para enfrentar uma crise."
Para o economista, o caminho que o Brasil deveria percorrer a partir de agora é trabalhar com uma política fiscal mais restritiva. Isso permitiria ao país operar com juros menores e ajudaria a evitar uma valorização acentuada do real, mesmo sem a presença do BC no mercado.