O Banco Central, responsável pelo processo de recomposição das reservas internacionais brasileiras, por meio da compra de dólares no mercado à vista, tem por costume não se pronunciar sobre a sua estratégia de intervenções no mercado de câmbio. Para o BC, a recomposição de reservas protege o país contra eventuais crises de confiança futuras. A instituição informa apenas que deve continuar comprando dólares até as reservas atingirem um patamar de equilíbrio - que não é divulgado.
Para o secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, porém, a atuações do BC devem continuar, de modo que as reservas continuarão em sua tendência de crescimento. Mas Kawall também não arrisca um valor ideal para as reservas cambiais brasileiras.
"É uma política [de recomposição de reservas] extremamente importante. Estive na reunião do FMI na Ásia e o que você constata é que diversos países estão sendo beneficiados pelo aumento das reservas internacionais. Estão discutindo, inclusive como alguns já o fazem, a possibilidade de separar parte das reservas a poupá-las para gerações futuras. Se tiver possibilidade de aumentar as reservas para que elas funcionem como uma espécie de seguro contra crises externas, a gente vai colher uma série de benefícios", disse Kawall.
Para ele, a discussão sobre os custos de carregamento das reservas cambiais tem de vir acompanhada, também, dos benefícios. Ao comprar dólares no mercado interno, o BC adiciona reais na economia. Posteriormente, para evitar um crescimento da inflação por conta de um maior volume de reais em circulação, o BC tem de retirar estes recursos do mercado financeiro. Para isso, emite títulos da dívida pública ou realiza os leilões de "go-around" (no curtíssimo prazo) e, para isso, paga juros ao mercado financeiro. "Não dá para querer que tenha muitos benefícios sem custo zero. Infelizmente, em economia, sempre tem algum custo", afirmou Kawall.
Para o analista Guilherme Loureiro, da Tendências Consultoria, as reservas internacionais já estariam chegando a um patamar de "equilíbrio". Por isso, argumenta, os custos estariam chegando a um valor considerado alto. "Os benefícios da acumulação são um pouco difíceis de mensurar", admitiu ele. Ponderou, porém, que os custos fiscais são "inerentes" e que a dívida externa ganhou um perfil mais "confortável" de ser administrado com as compras de dólares. Para o fim de 2006 e 2007, a previsão do economista é que as reservas cheguem a US$ 80 bilhões e US$ 90 bilhões.
No próximo ano, as compras da autoridade monetária, segundo ele, devem ser menores (US$ 15 bilhões) até mesmo por que devem entrar menos recursos no país. Neste ano, até agosto, as compras do BC somam US$ 23,4 bilhões. O Tesouro Nacional também tem adquirido dólares no mercado. Estes recursos, porém, não vão para as reservas. Eles estão sendo utilizados para o pagamento dos vencimentos da dívida externa brasileira.
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