Empresas que possuem reservas próprias de florestas estão conseguindo atenuar os efeitos da pior crise que o setor madeireiro sofreu nas últimas décadas. O setor está encolhendo pelo segundo ano consecutivo, devido à valorização do real que reduziu drasticamente as exportações; ao aumento dos custos de matéria-prima e à queda nos preços internacionais da madeira, causada pela retração no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Na contramão desse movimento e para manter a perspectiva de voltar a crescer quando e se o dólar voltar a subir, companhias como Berneck e Zattar estão investindo e pretendem elevar a produção nos próximos anos.
A expectativa é de reverter a curva decrescente iniciada no ano passado. Em 2005 o Paraná faturou US$ 1,1 bilhão com o complexo madeira, o segundo item mais importante da pauta local. Este ano, até setembro, foram vendidos US$ 830 milhões, com tendência de retração mais acentuada no último trimestre. As vendas industriais do setor (que incluem também o mercado nacional) também estão em queda: de janeiro a agosto, o faturamento baixou 15,69%, de acordo com a Federação das Indústrias do estado (Fiep). Outra fonte de dor de cabeça é a cotação internacional da madeira. Com a economia americana em uma fase menos aquecida, o mercado dos Estados Unidos passou a demandar menos compensados para sua construção civil, influenciando o preço em todo o mundo.
Com a desvalorização da moeda americana em 26% no período de 22 meses (o dólar custava R$ 2,88 em dezembro de 2004 e R$ 2,12 esta semana), os contratos de exportação passaram a render menos e as empresas acusaram o prejuízo. "Pelo menos 12 grandes empresas fecharam as portas", conta o presidente do conselho da Associação Brasileira das Indústrias de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Luiz Barros.
Mas quem plantou floresta própria e não precisa gastar com matéria-prima está no contra-ataque, investindo em maquinário e ampliações. Há cerca de um ano, o diretor-presidente da madeireira Berneck, Gílson Berneck, decidiu que a empresa precisava ser mais eficiente para sobreviver, encomendou máquinas importadas (uma vantagem do dólar baixo) e cortou desperdícios. Com isso, até abril, quer ampliar a produção da serraria instalada em Aracuária de 40 mil para 250 mil metros cúbicos ao ano. Uma nova fábrica de MDF (painéis de fibra de média densidade, usados na indústria de móveis, entre outras) também será erguida até 2008, no terreno já terraplanado. A unidade de aglomerados manterá a produção de 480 mil metros cúbicos anuais, 80% da capacidade instalada.
"Precisamos ter qualidade para elevar as condições de obter resultado", diz Berneck, que tem 23 mil hectares de pinus plantados. A reação contribuiu para tornar a Berneck uma das 30 empresas mais rentáveis do Brasil em 2005, de acordo com o jornal Gazeta Mercantil, com receita de R$ 253,8 milhões e lucro de R$ 63 milhões no ano passado e rentabilidade do patrimônio de 35%.
A ampliação da área plantada é a estratégia das Indústrias João José Zattar, que exporta 18 mil metros cúbicos por ano de compensado de pinus para a Europa. Apesar da perda de 35% no faturamento com a queda do dólar, a empresa está aumentando o patrimônio de 2 mil hectares em Pinhão (região central do estado), à razão de 250 hectares por ano. "Serve para aumentar a produção daqui a 20 anos, tempo que a árvore leva para crescer. Mas estamos adiando a expansão, que poderia ir mais rápido", conta o diretor-presidente, Miguel Zattar Filho.
Outra possibilidade considerada para o futuro é a venda da madeira como matéria-prima para outras atividades industriais, como a fabricação de papel. "Se o dólar não subir, pode ser mais rentável", diz.
Ele classifica como inócuo o pacote cambial criado pelo Ministério da Fazenda na tentativa de acalmar os ânimos dos exportadores. "Preciso continuar vendendo para manter os clientes externos, porque se eu parar eles vãoi comprar da China", completa Zattar.