Após registrarem queda no fim de 2008 e início deste ano em consequência da crise financeira internacional, as reservas internacionais brasileiras voltaram a subir nos últimos dois meses com as compras de dólares efetuadas pela autoridade monetária e bateram novo recorde histórico, ao somar US$ 209,57 bilhões nesta quinta-feira (17), segundo números divulgados nesta sexta (18) pelo Banco Central.
O recorde anterior, ainda segundo números da autoridade monetária, havia sido registrado em 6 de outubro do ano passado, quando as reservas somaram US$ 209,38 bilhões. O presidente da instituição, Henrique Meirelles, observou, no início deste mês, que o BC estaria aproveitando a melhora da situação extenra para retomar de forma mais expressiva a política de aumento das reservas internacionais.
O que são reservas internacionais
Reserva internacional ou cambial é o volume de dólares que o País tem em caixa. O governo acumula a moeda norte-americana de duas formas: comprando dólares no mercado ou fazendo emissões de títulos da dívida pública - que são comprados pelos investidores e cujo pagamento é depositado nas reservas. As reservas também podem variar por conta da remuneração das aplicações que são feitas com estes recursos - a maior parte em títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
A grande vantagem de ter dólares em caixa é que isso dá garantias contra eventuais crises no mercado internacional, como a da Rússia, em 1998, e contra a atual crise financeira internacional. Com os dólares, o país tem mais autonomia. Economistas, no entanto, chamam a atenção para a compra de dólares. Isso por que o governo cada vez que compra a moeda, paga em real e, com isso, aumenta a dívida interna.
Histórico das reservas
As reservas chegaram ao fundo do poço no fim de 1998 e início de 1999, logo após o anúncio de moratória (não pagamento da dívida externa) por parte da Rússia. Naquele momento, houve uma fuga de capitais de todos os países emergentes e, para manter o câmbio fixo, o Banco Central, sob a tutela de Gustavo Franco, teve de lançar mão das reservas e vender dólares ao mercado financeiro para segurar a cotação do real. Naquele momento, as reservas já haviam caído para R$ 24,45 bilhões.
Com a adoção do câmbio flutuante, ou seja, sem metas para a taxa de câmbio, as reservas deixaram de ser utilizadas para a venda de dólares. A conseqüência imediata foi a disparada da moeda norte-americana para cerca de R$ 3,00. Entretanto, até o fim daquele ano já retornaria para um patamar ao redor de R$ 2,00 por dólar em conseqüência ao aumento da taxa de juros.
Recomposição
Os anos seguintes foram marcados por melhoria das reservas internacionais brasileiras por conta de captações de recursos no exterior e, principalmente, de novos empréstimos com o Fundo Monetário Internacional. Entre dezembro de 1998 e setembro de 2003, o Brasil pegou empréstimos de cerca de US$ 50 bilhões com o FMI. No início de 2004, com a melhora do cenário externo, foi instituído formalmente o processo de recomposição das reservas internacionais - por meio da compra de dólares no mercado à vista pelo BC. Em 2004, o BC comprou US$ 5,2 bilhões e, em 2005, outros US$ 21,5 bilhões. No ano de 2006, as compras somaram US$ 37,2 bilhões e, em 2007, bateram recorde ao somar US$ 78,5 bilhões. No ano passado, o BC adquiriu US$ 7,5 bilhões. A aplicação das reservas em títulos públicos de outros governos, e a continuidade das captações externas, também permitiu o seu crescimento nos últimos anos.
O processo de recomposição das reservas permitiu ao governo federal pagar antecipadamente, no final de 2005, o empréstimo ao Fundo Monetário Internacional, e, também, outros compromissos da dívida externa como, por exemplo, a dívida com o Clube de Paris e promover o resgate antecipado das "bradies" títulos da dívida externa oriundos da renegociação ocorrida em 1994. Estes papéis, apesar de muito negociados no passado pelo mercado financeiro internacional, ainda carregavam o estigma da moratória da dívida externa brasileira de 1987.
Crise financeira
Com o agravamento da crise financeira internacional, em setembro do ano passado, com o anúncio de concordata do banco norte-americano Lehman Brothers, o BC teve de abandonar, momentaneamente, a política de compras de dólares e, consequentemente, de recomposição das reservas cambiais.
Para atender à demanda por dólares no Brasil, visto que os investidores estrangeiros estavam retirando recursos da economia doméstica para cobrir prejuízos no exterior, ou para buscar aplicações com risco menor (países desenvolvidos), a autoridade monetária voltou a vender dólares no mercado à vista - chegando a colocar em mercado mais de US$ 14 bilhões. Com isso, as reservas internacionais recuaram, chegando a R$ 199 bilhões em 19 de fevereiro.
Nos últimos meses, porém, com o retorno dos investidores ao país, na busca por aplicações com remuneração melhor, o BC pôde voltar a comprar dólares e recompor as reservas. Em maio e junho, respectivamente, comprou US$ 2,74 bilhões e US$ 3,24 bilhões. No início de julho, até dia 10, a autoridade monetária comprou mais US$ 222 milhões no mercado à vista.
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