O preço do serviço que oferecia era competitivo, mas a Artcort precisou adaptar o destino das sobras de tinta e lona para assinar o contrato negociado com a Spaipa, fabricante e distribuidora da Coca-Cola no Paraná. No caso da joinvillense Brenntag, o problema estava no excesso de ruído em alguns pontos da sede da distribuidora de produtos químicos em Santa Catarina. Com as adequações, as duas empresas entraram no que podemos chamar de "corrente do bem" formada na cadeia produtiva não só da Spaipa, mas de várias companhias ao redor do país.
Empresas de grande porte, que já tem programas de responsabilidade social e ecológica consolidados, agora multiplicam as práticas exigindo de seus fornecedores condutas semelhantes às suas. "De nada adiantaria termos políticas sociais, ambientais e de segurança dentro da empresa, se os nossos fornecedores fossem negligentes com as demandas sociais, explorassem mão-de-obra infantil ou poluíssem o meio ambiente", diz o gerente de suprimentos da Spaipa, Renato Lachica.
O gerente de mobilização do Instituto Ethos, Emílio Martos, confirma e vai além. "A prática é boa não apenas no sentido de disseminar condutas responsáveis, mas também para a própria empresa, que minimiza os riscos do negócio", diz. "Contratando com esse cuidado, ela sabe que não vai se ligar a uma empresa com multas ambientais ou trabalhistas, por exemplo, e diminui as chances de ter problemas de suprimentos ou de ser co-responsável por eventuais irregularidades."
Segundo o gerente do Ethos, essa extensão de exigências para toda a cadeia é relativamente nova. "Em um primeiro momento, as empresas fizeram a sua própria lição de casa. De dois anos para cá, elas começaram a chamar outras partes para participar também, como clientes, fornecedores e a própria sociedade."
Na Spaipa, conta Lachica, desde 2005 existe o Programa de Qualificação de Fornecedores, desenvolvido em conjunto com a matriz da Coca-cola no Brasil. "Temos uma série de critérios, estabelecidos conforme o material ou serviço que a empresa está fornecendo", explica. Além de um questionário detalhado sobre os procedimentos do fornecedor, o programa inclui visitas aos estabelecimentos para verificar as suas condições de trabalho.
Em alguns casos, quando existe algum procedimento considerado inadequado, a Spaipa propõe prazos e formas de adaptação. Foi o que aconteceu com a Artcort. Antes de assinar contrato para adesivagem de toda a frota da fabricante da Coca-Cola, o diretor da empresa, Fábio Farias, precisou repensar o destino das sobras de sua produção, como tintas e lonas. "Respondemos um questionário sobre resíduos e identificamos que precisamos destinar as sobras, que ficavam armazenadas na empresa. Fizemos adequações porque não podíamos simplesmente dizer não e perder o contrato", diz.
A Perdigão também leva em conta condutas sociais e ambientais na escolha de seus fornecedores. Desde o começo deste ano, eles são convidados a assinar um Código de Ética o mesmo assinado por todos os funcionários da empresa. "Assim, eles assumem o compromisso de ter condutas semelhantes às que nós temos, reconhecidas como de empresa socialmente responsável", explica o diretor de relações institucionais da companhia, Ricardo Menezes.
Segundo o executivo, a preocupação com as práticas dos parceiros e fornecedores sempre existiu na empresa, mas de maneira informal. "Na medida em que fomos evoluindo com o nosso próprio código, fomos transformando essa prática em algo formal", lembra. "E estamos encontrando uma aceitação excepcional porque vivemos um momento em que todos querem dar a sua contribuição para melhorar a sociedade."
As regras, segundo Menezes, visam inicialmente a corrigir eventuais desvios dos fornecedores. "Nosso primeiro objetivo é trazê-los para fazer parte dessa corrente do bem." Desde que iniciou o controle, a Perdigão desabilitou apenas um fornecedor porque, segundo o executivo, as condições de trabalho dos funcionários eram muito aquém da desejável. "O próprio Instituto Ethos detectou que uma outra empresa utilizava trabalho infantil. Não houve descredenciamento porque eles imediatamente se readequaram aos padrões."
Inibir o trabalho infantil é justamente a principal preocupação da desenvolvedora de produtos agrícolas Monsanto. Há pelo menos 3 anos, segundo a diretora de Recursos Humanos da empresa, Andréa Gennari, há nos contratos assinados por fornecedores a obrigação de não empregar crianças. Agora a empresa instituiu uma diretoria de Direitos Humanos para tratar especificamente do combate ao trabalho infantil, ao trabalho forçado e à violência, entre outros.