O ano que se apresenta já é dado como perdido do ponto de vista econômico. Por mais que previsões feitas em janeiro embutam uma grande margem de erro, pouca gente no mercado aposta em um crescimento do PIB acima de 0,5% em 2015. Se tudo der certo, a retomada começa no segundo semestre e uma expansão mais forte deve vir mesmo só em 2016.
Com a inflação alta, é bastante provável que os juros tenham de subir, o que desestimula a atividade. Além disso, cortes de gastos e aumentos de impostos que estão sendo anunciados pelos governos estaduais e federal terão um impacto negativo na economia brasileira. Embora sejam ações que abrirão espaço para um maior investimento privado, elas levam tempo para surtir efeito. Assim, o país deve atravessar no biênio 2014/2015 o pior cenário de crescimento desde os anos de 1998 e 1999.
Apesar da opinião unânime sobre a necessidade de mudanças, economistas sugerem soluções diferentes para que o PIB volte a crescer. A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, acredita que o segredo para a queda da inflação e o retorno do crescimento das atividades do setor produtivo é a austeridade fiscal. "É preciso ter um aumento da carga tributária e um corte de gastos com uma estratégia clara para voltar a crescer", opina.
Por outro lado, o professor João Basílio Pereima Neto, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná, critica a proposta de subir impostos, já que essa alternativa, segundo ele, prejudica o consumo e afasta o interesse de empresários em investir no país. A tendência de aumentar os juros para controlar a inflação também é vista com maus olhos. "A única solução é uma redução profunda nos gastos do governo. Isso deixa o Estado mais leve para reduzir a dívida pública e ter mais dinheiro para realizar investimentos."
Os especialistas também sugerem medidas como a depreciação do real frente ao dólar e a diminuição da taxa de juros a fim de estimular as exportações e alcançar uma balança comercial favorável.
Recomposição
O economista-chefe do HSBC na América Latina, André Loes, destaca a necessidade de um ajuste fiscal, com redução dos subsídios que congelaram as tarifas de gasolina e energia em 2014. Segundo ele, apesar de ter impacto direto no dia a dia dos brasileiros, o reajuste dos preços nessas áreas é necessário.
"O consumidor pode sofrer mais agora. Mas 2015 será ruim para que tenhamos boas ações no futuro. Se houver ajuste fiscal dá para esperar um bom crescimento em 2016." Segundo ele, ao retomar o crescimento, o país poderá pensar em medidas microeconômicas a médio prazo, como a reforma fiscal, que poderia ajudar o país a crescer perto de 3,5% ao ano.
Crise dos anos 90
Depois de 15 anos, Brasil terá novo biênio de baixo crescimento
O cenário atual de um biênio com estagnação do crescimento não era visto desde o final da década de 1990, quando o Brasil foi afetado pela conjuntura econômica mundial e o real passava por um processo de estabilização. Na época, o país passou por uma retração do PIB de 0,1% em 1998 e de elevação de apenas 0,3% em 1999. Nem mesmo a crise mundial de 2008 foi responsável por uma estagnação como aquela em 2009, o país teve uma retração de 0,3%, mas cresceu 7,5% em 2010.
O primeiro fato que contribuiu para o cenário ruim no biênio 1998-99 foi a crise asiática. Em 1997, a Tailândia desvalorizou sua moeda local, o que causou altas dívidas e falência de grandes companhias, afetando países asiáticos e emergentes pelo mundo. Um ano depois, o problema foi na Rússia. O país enfrentava uma crise econômica desde o fim da União Soviética e, com dívidas de US$ 80 bilhões, acabou decretando moratória.
Cenário desfavorável
Na época, o Brasil sofria com alta taxa de juros, endividamento causado por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dependência de capitais estrangeiros. Pressionado pelo mercado a desvalorizar o real, o governo FHC conduziu a mudança do regime cambial, implantando o câmbio flutuante. Apesar dos pontos negativos, a moeda ganhou estabilidade e permitiu um bom crescimento para os anos seguintes.