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Política econômica

Retomada passa por resgate da credibilidade

 | Pedro Ladeira / Folhapress

A campanha eleitoral de Dilma Rousseff adotou o lema "governo novo, ideias novas" logo no início do segundo turno, mas não se sabe se ele valerá para a política econômica do segundo mandato. Certo é que, embora o Planalto resista em admitir, seguir à risca a mesma receita dos últimos anos dificilmente produzirá resultados muito diferentes dos atuais – uma combinação de inflação elevada, déficit crescente nas contas públicas, investimento em queda e crescimento próximo de zero.

INFOGRÁFICO: Veja os desafios do governo no campo econômico

Em setembro, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 6,75%, maior nível em três anos. O rombo do setor público passou de 4% do PIB em agosto, o pior resultado desde novembro de 2009. A taxa de investimentos, de 17,7% do PIB no período de 12 meses encerrado em junho, está no nível mais baixo em quase sete anos. E a projeção do mercado financeiro para o crescimento econômico neste ano não chega a 0,3% – desempenho comparável, na história recente, apenas à recessão de 2009.

Um dos poucos indicadores positivos é o do desemprego, de menos de 5% nas maiores regiões metropolitanas. Ainda assim, ele tem se mantido baixo basicamente pela saída de jovens e adultos do mercado de trabalho, e não pelo aumento do nível de ocupação. E é pouco provável que resista nesse nível por muito tempo se a economia continuar patinando.

De todos os desafios que o novo ministro da Fazenda terá pela frente, talvez o mais urgente seja o resgate da credibilidade da política econômica, fator indispensável para devolver a confiança aos empresários e estimulá-los a retomar os investimentos. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu neste mês ao pior nível da série histórica, iniciada em 2007.

Menor intervenção

"O fundamental é que o novo ministro se comprometa em reforçar o tripé macroeconômico adotado no fim dos anos 1990, que envolve câmbio flutuante e o cumprimento de metas de superávit primário e inflação. O governo tem de sinalizar que está disposto a intervir menos na formação de preços e permitir que os preços administrados sigam uma lógica mais realista", avalia Marcelo Luiz Curado, professor de Economia da UFPR.

Esse tipo de sinalização ainda não apareceu. Dispensado antes mesmo das eleições, o ainda ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a presidente "tem um compromisso com os fundamentos da economia" e que entre as prioridades dos próximos quatro anos estão "manter um bom resultado fiscal" e "manter a inflação sob controle".

As palavras de Mantega seriam, em tese, agradáveis aos ouvidos do mercado financeiro, mas poucos no mercado ainda acreditam no que diz o ministro demissionário. Ainda mais porque o discurso deu ênfase à manutenção de certas condições, dando a entender que o governo está satisfeito com o andar das finanças públicas e da inflação.

"O ministro não disse, mas, além de equilibrar as contas públicas, é preciso dar mais transparência a elas. O governo adotou critérios de contabilidade questionáveis nos últimos anos", observa Robson Gonçalves, professor do Instituto Superior de Administração e Economia (Isae/FGV).

Contraponto

"Governo não deve ter medo de se endividar para investir mais", diz economista

Economistas mais ortodoxos defendem que a primeira atitude do governo deve ser a de arrumar a casa, ajustando a política fiscal e combatendo a inflação com vigor. Mas a professora Denise Lobato Gentil, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sugere medidas bem diferentes. Para ela, o governo deve elevar rapidamente seus investimentos e reforçar as linhas de crédito barato oferecidas por bancos públicos como a Caixa e o BNDES, mesmo que num primeiro momento isso signifique elevar a dívida pública e a inflação.

"O governo não deve ter medo de investir porque, quando investe, ativa cadeias importantes na construção e na indústria e, ao gerar emprego e produção, amplia a arrecadação. Não tem de temer o endividamento no curto prazo, porque há espaço para se endividar agora e, assim, recuperar a economia", diz Denise.

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