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Papo de Mercado

Retorno do IPI e câmbio são desafios para área automotiva

Em evento promovido pela Gazeta do Povo, diretor da Fiat e presidente do Sindimetal-PR dizem que 2010 será muito parecido com 2009 para montadoras e fornecedores – e que produtividade e novas tecnologias são necessárias para enfrentar o mundo pós-criseA indústria automotiva instalada no Brasil terá de se preparar para um mercado mais competitivo e mais agressivo em preços, para o desaquecimento da demanda causada pela retirada da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e para um cenário ainda ruim para exportações em 2010. A previsão é que somente em 2012 o mercado mundial volte aos níveis de 2007, quando foram produzidas 73 milhões de unidades. A projeção para 2009 é que esse volume fique em 59 milhões de unidades.

Depois de dobrar de tamanho nos últimos cinco anos e elevar suas vendas em 4% no primeiro semestre deste ano, o Brasil só poderá enfrentar esses desafios com investimentos em aumento de produtividade, redução de custos, desenvolvimento de novas tecnologias e foco no cliente. As conclusões são do diretor de Comunicação Corporativa da Fiat, Marco Antônio Lage, e do presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Paraná (Sindimetal-PR), Roberto Sotomaior Karam, que participaram ontem do Papo de Mercado, evento promovido pelo caderno de Economia da Gazeta do Povo, com patrocínio de Amil e MGM Operadora Turística.

O retorno gradual da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos – que começa no dia 1º de outubro – deve encarecer em média em 7% os preços dos carros. "Teremos também um efeito ‘psicológico’ da retirada do benefício sobre o consumidor, que tende a ficar menos disposto a comprar. Com isso a concorrência vai ficar mais acirrada e a margem vai cair. Em outubro vamos ter uma ideia sobre como o mercado vai reagir", prevê Lage.

Ociosidade

Para o presidente do Sindimetal, a crise ainda não passou. Ele lembra que as empresas ainda estão com ociosidade elevada nas fábricas, porque, embora as vendas tenham reagido no mercado interno, as exportações ainda patinam, no embalo do câmbio desfavorável e da demanda fraca. "As montadoras iniciaram o ano com 300 mil carros em estoque", lembra ele.

Para os dois analistas, 2010 deve ser um ano muito parecido com 2009. A queda nos juros e o crédito em alta, além da retomada do crescimento da economia, são aliados no processo de retomada. O câmbio, porém, permanece como o grande calcanhar de aquiles do setor. O dólar fraco beneficia a importação de componentes, o que vem prejudicando a cadeia de fornecedores locais e reduzindo o índice de nacionalização dos carros. "Estamos vivendo no limbo", diz Karam.

Alvo da China

A concorrência com a China também preocupa. "O Brasil é um alvo para as fabricantes chinesas. Temos que nos preparar para essa disputa", diz Lage. O país oriental desponta como a grande vedete do setor, ao ultrapassar os Estados Unidos e assumir a liderança no ranking dos maiores produtores em 2009.

A crise econômica provocou uma migração nos polos de produção mundial para países emergentes, aponta estudo do The Boston Consulting Group. China, Rússia, Índia e Brasil, que respondiam em 2001 por 9,8% do mercado global, elevaram essa participação para 24,3% em 2008 e 27,8% nesse ano. "Há um potencial para que essa presença chegue a 35%, 40%", projeta Lage. O Brasil – que em cinco anos passou de décimo segundo para quinto colocado no mercado global – precisa se preparar para concorrer no mundo pós-crise. Uma das apostas nesse novo cenário é o desenvolvimento de veículos cada vez menos poluentes, com eficiência de consumo de energia e que sejam 100% recicláveis. Para Karam, esse esforço tem de ser feito em conjunto com a cadeia de fornecedores, que precisa de escala para viabilizar investimentos. Lage defende parcerias com universidades e escolas de engenharia e a criação de incentivos para o desenvolvimento de novas tecnologias.

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