A valorização de 8,88% da Bolsa só no mês de julho pode até encorajar alguns investidores a entrar de cabeça nesse mercado, sobretudo em tempos de juros baixos. Porém, se aventurar por conta própria nesse tipo de investimento pode nem sempre ser uma boa estratégia. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), as pessoas físicas que investem em ações obtêm, em média, retorno anual 8 pontos porcentuais abaixo do Ibovespa - índice termômetro do mercado acionário brasileiro.
Isso quer dizer que, em caso de uma alta de 10% no índice, o investidor comum teria, em média, valorização de 2% em seus ativos. Já se a Bolsa recuasse 10%, a perda no bolso seria maior – da ordem de 18%.
O professor da FGV, Bruno Giovannetti, responsável pelo estudo, atribui essa diferença a duas razões: custos operacionais, como as taxas de corretagem cobradas pelas corretoras, e vieses comportamentais dos investidores.
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O primeiro viés que ele aponta é o excesso de confiança. Segundo Giovannetti, pessoas tendem a acreditar que são melhores do que a média. Com isso, acham que suas ideias também são melhores e, por consequência, executam mais ordens de compra e venda que um profissional, correndo mais riscos e pagando mais taxas de corretagem. “Há também investidores que operam em busca de adrenalina, como se aquilo fosse um jogo. Eles também fazem mais operações do que o necessário”, diz.
Quando um investidor comum compra uma ação e ela sobe, explica Giovannetti, ele tende a vendê-la rapidamente e garantir o lucro. Já quando o preço cai, ele não a vende com a mesma velocidade, carregando a ação mesmo que seu prejuízo comece a se agravar. É o chamado efeito de disposição: a dificuldade de realizar um prejuízo e assumir que sua estratégia deu errado.
A pesquisa, obtida com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo, analisou todas as ordens de compra e venda de pessoas físicas realizadas na B3 de 2012 a 2015, com dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Foram desconsideradas as operações realizadas no mesmo dia, conhecidas no mercado financeiro como day trade.
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A doutora em psicologia social, Vera Rita de Mello Ferreira, recomenda cuidado ao investir em ativos tão voláteis e aconselha a procura por profissionais isentos que possam assessorar as decisões dos investidores. “É importante reconhecer as limitações próprias. Quando o dinheiro é meu, posso acabar tomando decisões que nem sempre são as melhores.”
O engenheiro Nicholas Garcia, de 30 anos, por exemplo, conta que sua experiência no mercado acionário foi traumática. “Eu tinha um perfil super agressivo e acreditava que sabia muito mais do que realmente sabia.” Ele relata que fez cursos introdutórios de mercado financeiro e passou a fazer operações na Bolsa, assessorado por um especialista.
Garcia teve um período de ganhos: conseguia uma renda mensal no mercado financeiro maior que seu salário à época, quase dobrando seu patrimônio. No final de 2014, porém, uma estratégia arrojada sugerida pelo analista acabou com tudo.
Como era uma operação vendida - que apostava na desvalorização de um ativo -, sua perda foi maior que seu patrimônio total. Ele teve um prejuízo de R$ 200 mil e ainda teve de negociar uma dívida de R$ 20 mil com a corretora. “Eu vejo que fazia, há quatro anos, coisas que considero loucura hoje”, diz. Garcia afirma que voltaria a investir em ações atualmente, mas de uma maneira mais contida.
Entender as regras do jogo é fundamental para investir na Bolsa
Para Lucas Claro, analista da Ativa Investimentos, quem deseja começar na Bolsa deve conhecer as regras do jogo e as ferramentas do mercado. Um desses recursos disponíveis nas plataformas de negociação é conhecido como stop loss. Funciona como uma trava contra eventuais perdas, interrompendo uma negociação que está dando prejuízo antes que a perda seja ainda maior.
O analista também afirma que é preciso autoconhecimento para entender quanto risco você está disposto a correr. “Investir na Bolsa precisando de dinheiro no curto prazo pode gerar um nível muito elevado de estresse.”
Para quem deseja ter investimentos em renda variável mas não possui tempo ou condições de analisar as várias empresas listadas, Giovannetti acredita que os ETFs (Exchange Traded Funds) sejam boas opções. São fundos que replicam índices (como o Ibovespa) e têm cotas negociadas em Bolsa.
Assim, segundo o professor, o investidor aloca seu capital em um ativo já diversificado a um custo mais baixo.
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