O setor de serviços permanece perdendo fôlego. Mas a culpa não é da inflação, já que a demanda das famílias permanece aquecida. A retração registrada pela indústria e pelo comércio em abril é o que explica a desaceleração no segmento de serviços no mesmo mês, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
INFOGRÁFICO: Veja a variação do setor de serviços
As vendas do comércio varejista caíram 0,4% na passagem de março para abril, enquanto a produção da indústria recuou 0,3%, de acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). No mesmo período, o crescimento da receita bruta nominal dos serviços caiu de 6,8% para 6,2%. "Os serviços atuam de forma complementar ao segmento industrial e comercial. No mês de abril, teve retração nessas atividades, e os serviços acompanham essa tendência", justificou Roberto Saldanha, técnico da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.
A perda de força corrobora a expectativa de que o PIB neste ano será baixo, com alta de 1%, comentou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. "Com a perda de vigor de serviços, que é um reflexo da fraqueza generalizada do nível de atividade, é possível esperar que o segundo trimestre apresente um resultado nulo ou talvez ligeiramente negativo", disse Solange.
O crescimento da receita do segmento em abril foi o mais fraco desde março de 2013. A taxa acumulada em 12 meses, de 8,3%, também foi a menor da série histórica, iniciada em janeiro do ano passado. Na passagem de março para abril, os serviços prestados às famílias mantiveram o ritmo de expansão em 10%, mas sua contribuição para o total do setor é modesta.
"Os serviços de informação e os serviços profissionais foram os que contribuíram para esse crescimento menor do setor de serviços", contou Saldanha. "Os segmentos que têm maior peso na estrutura do setor de serviços são os de informação, profissionais e transportes. Os que são mais pesados são justamente os mais sensíveis às demandas empresariais", acrescentou.
Efeito cascata
O segmento de transportes, embora tenha crescido 8% em março e abril, vinha de uma alta de 14,7% em fevereiro. O transporte terrestre, que responde sozinho por 17,5% de toda a pesquisa, cresceu apenas 3,6% em abril. A queda na produção industrial brasileira foi o que prejudicou o resultado do transporte terrestre, apontou o IBGE.
"O principal peso (no transporte terrestre) é transporte de carga. Uma vez que ocorre uma retração na indústria, a tendência desse segmento é se retrair também, porque tem menor demanda de matéria-prima como também menor volume da produção industrial", explicou o técnico do IBGE.