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Impacto na economia

Coronavírus pode causar a pior retração do PIB brasileiro em 120 anos

Viaduto Santa Ifigênia durante a quarentena: PIB do Brasil pode ter a maior retração em um único ano por causa do coronavírus
Viaduto Santa Ifigênia durante a quarentena: PIB do Brasil pode ter a maior retração em um único ano por causa do coronavírus (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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Se a projeção do Banco Mundial de que a economia do Brasil vai encolher 5% este ano por causa do novo coronavírus se concretizar, essa será a maior retração que o país enfrentará em 120 anos. Segundo estatísticas históricas do IBGE, não há registro de uma queda tão grande da atividade em um único ano desde 1901.

A instituição divulgou suas novas projeções de crescimento para a América Latina neste domingo (12). A retração de 5% do PIB brasileiro é um dos piores desempenhos entre os grandes países da região. O economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Martin Rama, frisou que os países com dívida mais elevada e com déficits fiscais anteriores à crise do novo coronavírus devem ter um espaço mais limitado para agir, como é o caso do Brasil.

Até agora, as projeções do Banco mostram uma retomada já em 2021 com crescimento de 2,6% na América Latina e no Caribe e de 1,5% no Brasil. Rama reconheceu, porém, que há uma “margem enorme de incertezas” e que será necessário monitorar os reflexos da pandemia para eventualmente fazer novos prognósticos.

Maior retração do PIB

A retração projetada para o Brasil, se concretizada, será o maior tombo do PIB em um único ano. Durante a recessão enfrentada pelo país recentemente, houve duas fortes quedas do PIB em 2015 e 2016, quando o resultado negativo foi de 3,8% e 3,6%, respectivamente. O resultado do biênio foi de recuo de 7,2%. Desde 2017, o Brasil reverteu a chave e passou a ter resultados positivos do PIB, porém, com crescimento patinando na casa de 1% ao ano.

Na história recente, o grande tombo em um único ano na economia ocorreu em 1990, quando houve retração de 4,35% – foi o ano do Plano Collor I e do confisco do dinheiro dos brasileiros. A segunda maior queda já registrada em um único ano foi em 1981, quando o PIB caiu 4,25% na esteira da crise da dívida externa brasileira.

Rombo nas contas públicas

Ao comentar as limitações fiscais, Rama não citou nenhum país específico. O Brasil, porém, já caminhava para ter em 2020 o sétimo ano seguido de rombo nas contas. O governo federal encerrou o ano de 2019 com um rombo de R$ 95,1 bilhões, o equivalente a 1,3% do PIB, melhor resultado desde 2014, quando as contas começaram a fechar no vermelho.

Naquele ano, o déficit primário ficou em R$ 23,5 bilhões. Depois, entre 2015 e 2018, o rombo ficou na casa dos R$ 100 bilhões, atingindo o seu pico em 2016, quando o país registrou déficit primário de R$ 161,3 bilhões. Em 2018, o déficit foi de R$ 120,3 bilhões. Para 2020, a previsão oficial do governo é de que o rombo ficaria em, no máximo, R$ 124,1 bilhões. Com o coronavírus, será muito difícil manter esse resultado.

A dívida bruta do Brasil está em 76,5% do PIB, segundo dados de janeiro, um patamar considerado elevado para países emergentes. “O quanto de assistência vai depender do espaço fiscal de cada país”, disse Rama. Economistas já aventam a possibilidade de a dívida beirar os 100% do PIB com as medidas que estão sendo adotadas pelo governo Jair Bolsonaro no combate à crise.

O que fazer para combater a crise econômica

Como prioridades, o Banco Mundial destacou a necessidade de ampliar programas sociais para abarcar o maior número possível de trabalhadores que perderão sua fonte de renda devido à paralisação das atividades decorrente do isolamento social recomendado por autoridades de saúde.

No Brasil, o governo tem priorizado iniciativas temporárias, como o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais, que tem duração de três meses. Questionado se ações com esse período de tempo são suficientes, Rama disse que elas vão na direção correta. “O ambiente é de incerteza. Respostas às que se pode agregando tempo é melhor do que fazer um programa longo que no fim, pode ficar por tempo além do necessário”, afirmou o economista.

Segundo Rama, um dos maiores desafios da região é o fato de que os índices de informalidade na América Latina são maiores do que em países desenvolvidos. “O sistema de seguro-desemprego não cobre todo mundo”, afirmou.

Além das medidas de proteção social, os governos precisarão monitorar os riscos de uma crise financeira e, eventualmente, recapitalizar bancos para impedir impactos de proporções ainda maiores, alertou o Banco Mundial.

“Estamos tendo dificuldades financeiras internacionais, por capitais que saem, por empresas que não conseguem pagar dívidas” disse Rama. Ele defendeu transparência nas ações governamentais nessas frentes para evitar a “socialização de perdas” de maneira injusta, que penalize a população mais necessitada.

“Temos experiências em que se teve que fazer compra de ativos de má qualidade, isso teve custos econômicos, de confiança. Por isso enfatizamos necessidade de planejamento. Se chegamos a ter que fazer isso, temos que fazer com cuidado”, ponderou. Segundo o economista, a comunicação nessa frente será quase como uma espécie de “pacto social”.

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