Pela quarta vez em menos de uma semana, os ministros de Finanças da zona do euro não chegaram a um acordo para evitar o calote da Grécia a partir de julho.
Reunidos em Bruxelas nesta quinta-feira (25), os membros do bloco da moeda única cobraram da Grécia nova proposta para desbloquear uma ajuda de 7,2 bilhões de euros, a última parte do socorro externo de 240 bilhões de euros recebido desde 2010.
O valor poderia ser usado para pagar até terça-feira (30) uma dívida de 1,6 bilhão de euros com o FMI (Fundo Monetário Internacional), também tema do encontro.
Uma nova reunião pode ocorrer no sábado (27). O impasse aumentou depois que FMI e BCE rejeitaram a proposta feita pelo governo grego no domingo (21) de um ajuste fiscal de 7,9 bilhões de euros até 2016 em troca da liberação dos recursos.
Apesar de um aceno positivo dos líderes europeus à oferta de Atenas, os credores apresentaram uma contraproposta, não aceita pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza. Não houve consenso em uma nova reunião entre as partes na manhã desta quinta (25).
Além da negociação sobre a Grécia, ocorre em Bruxelas o primeiro de dois dias de cúpula dos líderes dos 28 membros da União Europeia, convocada para discutir outros temas. A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que as negociações agora dependem das discussões técnicas entre gregos e credores.
O cenário mostra Tsipras isolado pelos colegas de bloco na tentativa de impedir um colapso econômico em seu país a partir de semana que vem.
Na quarta, ele declarou que o bloco foi menos rigoroso em negociações anteriores com Irlanda e Portugal, que também passaram por crises recentes. Nesta quinta, disse estar ainda “confiante” em encontrar uma solução.
Calote
O efeito do calote no FMI seria imediato. Com o bloqueio dos 7,2 bilhões de euros, a Grécia não pagaria sua dívida e ficaria pela primeira vez sem ajuda externa desde a crise de 2010, aumentando o risco de deixar a zona do euro.
FMI e BCE exigiram mais recolhimento de imposto e endurecimento na reforma previdenciária. Cobraram ainda que parte das medidas passe a valer a partir de julho, logo após expirar o prazo da dívida grega.
Tsipras alega que precisa de tempo para votá-las no Parlamento, até porque membros do seu partido, o Syriza, e do aliado de coalizão, os Gregos Independentes, têm se mostrado resistentes a determinados pontos. Pela oferta de Atenas, as principais medidas teriam força a partir de outubro.
Na sua reforma previdenciária, a Grécia sugeriu um limite de 67 anos para quem se aposentar em 2025. Os credores querem que esse prazo seja 2022 e que o país suba de 0,4% para 1% do PIB a arrecadação em 2015 com as mudanças no setor.
FMI e BCE pedem também que a receita com a reforma do IVA, o imposto sobre valor agregado, seja de 1% do PIB e não 0,74%, como quer Atenas. Solicitaram que o governo dobre a promessa de cortar 200 milhões de euros os gastos com Defesa.
Saques
Com o calote, os bancos gregos teriam de conter saques – pelo menos 5 bilhões de euros foram retirados na semana passada. Em resposta para dar uma sobrevida, o BCE aumentou a margem de assistência de liquidez de emergência ao bancos gregos.
Discute-se já a possibilidade de o governo ter de impor um controle de saques, uma medida impopular para um partido eleito em janeiro com o discurso contra medidas de austeridade adotadas pelos governo anteriores, de centro-direita.
A Grécia cresceu 0,8% em 2014, mas o desemprego continua o maior da Europa (25%), a dívida pública ronda 175% do PIB (era 129% em 2009) e a economia encolheu 25% em cinco anos.